segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Para o Tato com Amor

Escolhi “Clair de Lune”, de Debussy, para escrever um texto que já deveria ter saído, mas nem sempre as coisas são como devem ser. Acho que foi por covardia minha de entrar num assunto tão delicado que envolve a perda de alguém que eu amei por demais. Amei, não. Eu Amo!

E essa belíssima obra, uma das composições clássicas mais belas e executadas em todo mundo tocada ao piano pelo genial artista era a mesma que ouvi no sonho que tive noite passada. Um daqueles bem reais em que você acorda sentindo o cheiro do outro e uma carícia suave nos cabelos.

Nosso cantinho no Bar dos Guerreiros

E foi assim que Tato me veio. Estávamos no Maracanã vazio e iluminado com as cores verde, branco e grená. Deu-me a impressão de que o Fluminense havia jogado e esperávamos o povo ir embora para sairmos juntos do estádio.

E naquela arquibancada ele segurava a minha mão e sorria. Tudo em silêncio. Palavras as vezes sobram. Até que em certo momento deitei minha cabeça em seu colo, o que me remeteu aos meus quinze anos, e ele fez carinho até eu acordar com aquela lembrança branda, sublime e afável. E levantei-me da cama com meu grande amigo em minha mente e, aos poucos, recordei-me de momentos especiais que vivemos dentro e fora do Maracanã.

Ele bebendo sua cervejinha
Nossa última festa, por exemplo, foi a de final do ano da Fiel Tricolor.  Ele foi me buscar na porta de casa. Na época morava na Nossa Senhora de Copacabana, bem em frente à Galeria Alaska e pude vê-lo chegar da minha janela. Acenei e desci para encontrá-lo. Um probleminha de última hora fez a Fiel mudar o local do evento e advinha o que fizemos? Sentamos num barzinho bem pé sujo, ali na Djalma Ulrich, para marcar hora enquanto bebíamos umas cervejas.

E conversar com o Tato era sempre celestial. Eu prestava atenção em cada palavra e nas histórias que ele viveu dentro da Young Flu e na Força Flu. Ficava encantada por ele compartilhar comigo aquelas memórias. Eu me sentia uma bruxinha diante do Mago Merlin.

E se hoje eu amo tanto a Young Flu a culpa é dele. Meu pai achava Torcida Organizada coisa de marginal para um homem, imagina para a menina dos seus olhos.  Como sou teimosa e obstinada, achei uma forma de contornar a situação. Cheguei ao Maracanã e fui direto ao Tato explicar o que acontecia e, na cara de pau, pedi que ele fosse ter uma conversa com meu pai. Isso mesmo. E ele foi e ele cuidou de mim em cada jogo, em cada caravana, em todos os momentos. Inesquecíveis circunstâncias que contribuíram para fortalecer mais ainda nossos laços.

Fluminense seu grande Amor
E eu tenho que agradecer a Deus por ter me ofertado um ano ao lado dele, o seu último ano, onde nos encontrávamos no Bar dos Guerreiros e ele sempre guardava um lugarzinho pra mim. Até minha bolsinha roxa ele segurava quando eu ia ao banheiro.

Ele tinha um coração enorme, um abraço apertado, palavras gentis, um sorriso farto. Só não podia pedir cigarro a ele, pois ficava fulo. Desculpem os mortais, nunca tive problemas com isso.

Tato era divertido e tinha aquela mania de assistir aos jogos sempre em pé, atrás do buraco que a torcida subia para as arquibancadas. Ele só ficava ali. Cerveja numa mão, um cigarro na outra e as mãos cruzadas.


Carlinhos, Anderson e Tato
Até que um dia recebo a notícia de que ele virou estrelinha. Não estava preparada. A primeira coisa que fiz foi olhar pela janela para ver se ele ainda estava a me esperar do outro lado da rua. Uma tentativa de me enganar. Chorei copiosamente. Minhas lágrimas caiam sem que eu tivesse força para contê-las. Eu me senti destruída, desamparada, sozinha, sem rumo.

Pensava: “O que vou fazer agora, sem ele?”

Imediatamente um sopro, era como se ele falasse comigo ao pé do ouvido: “Carlinha você vai continuar e eu estarei sempre perto”.

E tenho a honra de dizer que cantei o hino do nosso Fluminense enquanto seu corpo descia para encontrar a Mãe Terra.

Vilminha e Tato
Gratidão por uma amiga querida que tivemos em comum, a Vilma Gramazio, que me deu o abraço mais apertado e cheio de amor assim que entrei no Cemitério do Caju. Foi ela também que limpou minhas lágrimas e pegou minha mão para levar-me até ele. 

Meu amor a Bel Santos, ao Henrique Pinto. Meu amor ao Carlinhos, presidente da Fiel Tricolor, que me levou embora dali. Acho que ele percebeu que estava prestes a cair. 

A todos vocês a minha Gratidão.

A sua alma já estava muito longe dali e sei que ele ronda pelo Maracanã e pelas Laranjeiras e está dentro de cada um dos que tiveram o privilégio de ter por perto um homem tão especial.


Que saudades que sinto de você, meu amigo. Tudo o que me ensinou jamais será esquecido, assim como o seu legado que farei questão de manter cheio de luz.

Eu Te Amo do tamanho do céu!





Nenhum comentário:

Postar um comentário