quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Nostalgia Tricolor do Faustão


Sua paixão começou aleatoriamente. Não conhecia ninguém da torcida. Foi num jogo no Maracanã, em mil novecentos e oitenta e tantos em que as primeiras amizades foram feitas e ele começou a frequentar a sala do estádio 335B, galpão do seu Armando Giesta. Falo aqui do meu amado Marcelo Serro. Não sabe de quem estou a falar? Falo de Faustão que está até hoje com essa torcida. “São trinta anos e daqui não vou sair jamais”, diz ele.

Como aconteceu o encantamento? Pelas cores mais bonitas e pelo círculo de amizade, a união dos amigos era o que mais o fazia feliz. Sua matrícula dessa nova geração é 0.003.

E enquanto ele nutria no peito esse amor incondicional por sua torcida, o pai era flamenguista e delegado totalmente as organizadas. De colocar viatura do GEPE atrás dele.

“Eu ia de soco inglês, touca ninja, bermuda e camiseta e já tive que correr de muitos canas para não ser posto para fora do estádio. Isso me fez sair de casa aos dezesseis anos, logo depois que minha mãe se foi. Ele não tinha poder sobre mim e eu fiz o que queria” conta.

A primeira camisa foi um presente do amigo Luizinho, que comprou um saco cheio delas e distribuiu para alguns dos nossos. “Minha primeira camisa nem foi do Fluminense e sim da Young Flu. Ainda a guardo e ela está toda furadinha, mas é minha pele”, faz questão de ressaltar.

Faustão me diz que nunca brigou com ninguém da Young e, como em todo grupo, acontecem discussões e alguns se estranham e no final tudo é resolvido. Brigar jamais. É sua minha família, sua minha vida.

Primeira vez que pisou no Maracanã foi ara assistir Fluminense e Vasco, em 1984, naquele jogo onde o Romerito fez o gol. Inclusive foi nesta partida que iniciou as amizades que mantêm até hoje. Ele cita Marcelo Ameba, Sobral, Armandão, Ratão, Leleu (da banca de jornal), seu Armando.

Junior, Faustão, Fofo e Neném


E me revela algo muito especial. Os integrantes da torcida se comunicavam através de cartas publicadas no Jornal dos Sports, numa coluna para leitores. Aos 13 anos iniciou sua jornada no mundo das Caravanas:

“Uma das que mais me marcou foi quando fomos para o Fonte Nova, na Bahia, em 1992. Perdemos para o Bragantino no Maracanã e fomos até a Fonte Nova para fazer o jogo de volta. Vencemos por dois a um, Ézio fez o dele. Demoramos três dias para chegar ao estádio. Viajamos por uma empresa chamada Pérola Tour. O ônibus quebrou seis vezes. Saímos do Rio na meia noite de sexta-feira e só chegamos lá no domingo pelas quatro da tarde. Sem comer, sem beber, viajávamos sem dinheiro. Era tudo por amor. Nessa viagem comemos limão galego, que o Cassyano achou, e ficamos com a boca toda assada pela acidez da fruta. Chutei até uma macumba que tinha atrás do nosso gol. Largava família, largava tudo e sem um real ia junto”, revela.

Sensacional é a palavra que ele escolhe para definir as viagens. “Era como se fosse a minha verdadeira família. Alguns dizem que você vive melhor com um estranho do que com um parente e eu concordo”.

Ele me confessa sorrindo que passava rifa nas Laranjeiras, mesmo sem ter prêmio nenhum, era meio que um golpe. Inclusive dizia que era para ajudar a pagar o enterro da mãe de alguns jogadores. “Esquecíamos das mães que usamos e ao refazer a rifa alguns perguntavam: “A mãe dele já não morreu? Comprei essa rifa tem um tempo”.

E tudo isso para conseguir alugar um ônibus e viajar. Coisas que só um louco de amor faz.

“Já loquei um ônibus usando cheque sem fundos para vermos o Fluminense x Palmeiras no Parque Antártica. E tudo isso valeu a pena, faria de novo”, declara.



Nos anos 80 pulou muito o portão dezoito. Ele e o grupo de parceiros faziam isso pelas dez da manhã e se escondiam na sala do Fluminense. Todo mundo sem ingresso.

“Eu, Tia Helena, Sobral, Luizinho, Armando Gordo fazíamos uma vaquinha e um de nós ia até a cantina do Maracanã comprar uma quentinha para dividirmos. Ia rodando e cada um dava uma colherada. No final do jogo, material todo dobrado e bandeiras organizadas nas prateleiras. Tinha um pessoal que as levava para lavar e quarar no galpão do seu Armando Giesta na segunda-feira. Tínhamos muito zelo e amor pelo nosso material”, narra.

Como Faustão só usava uma bermuda preta era motivo de piadas e a tal bermuda recebeu o nome de coador de café. E foi com soco inglês na mão direita, a bermuda e seu pai correndo atrás dele que sua vida se fez.

Ele conta com orgulho que ajudou a acabar com a briga entre a Young Flu e a Gaviões da Fiel.

“Eu e Manoel fomos os responsáveis pela paz entre as torcidas do Fluminense e do Corinthians. A rixa era antiga e começou naquela invasão deles no Maracanã em 1974. Fomos para São Paulo fizemos amizade com um rapaz chamado Magrão que nos mostrou um rasgo que tinha da garganta até o umbigo, alegando que havia sido feito por integrantes da Young. Explicamos a ele que éramos da nova geração e que estávamos ali na paz. E assim foi feito. Para ter ideia eu sou respeitado até hoje. De entrar na arquibancada e ficar na torcida deles. Teve um jogo onde o São Paulo venceu com três gols do Raí, em 1981. Eu no meio da Gaviões da Fiel com a camisa da Young Flu no meio daqueles torcedores usando preto. Só eu de blusa branca. só eu podia e tenho testemunhas”, recorda.

E ainda me conta feliz de uma “brincadeirinha” conta os vascaínos, no primeiro jogo do Brasileirão de 1992. “Coloquei uma faixa da Young em cima da Gaviões da Fiel no jogo contra o Vasco e posso garantir que fui o único que fez isso”.



Renato Gaúcho comemorando o Gol de barriga

Ídolos e parceiros


“O Casal 20 me marcou e contra o Flamengo eram melhores ainda. Assisti a um Fla x Flu no Maracanã com 149 mil pessoas, um verdadeiro recorde. Estava lá gritando “Nense” naquela arquibancada de cimento”, descreve.

E seus melhores parceiros de arquibancada eram Carlinhos, William Maluco,Metaleiro, Paulinho Bife , Mão de Cobra, Leleu, Mosca, Lucio Juramento. E explica o motivo desses apelidos. “Era um código nosso. Ficava mais fácil marcar o nome de cada um. Foi assim que ganhei o meu apelido de Faustão, desde a época daquele programa que ele fazia Perdidos na Noite“, explica.

O seu título mais importante, tirando o tricampeonato, foi o de 1995, com aquele gol de barriga do Renato Gaúcho. “Ficamos uma sequência de anos sem ganhar nada e éramos motivo de chacota. E a gente acompanhando. Essa geração que só viu timão jogar não sabe de nada. Ver time com craques é mole, quero ver permanecer junto com as derrotas. Peguei uma época triste onde vi Marcelo Silva, Marcelo Barreto, Marcelo Costa. Era tanto Marcelo. Tinha o Rogerinho, Zanata, Itaberá jogadores ruins para o clube. Peguei a pior fase do clube e não abandonei nunca”.

Ele tem uma mágoa da época do rebaixamento. Não pelo time, a culpa não foi do time. Ele atribui essa culpa a “dois safados: Gil Carneiro de Mendonça e Arnaldo Santiago. Eles acabaram com o Fluminense. Te dou um exemplo: Fluminense x Náutico lá na casa do caralho, e eles colocavam cabritos e bodes para pastar e deixar o campo em “condições” de jogo. Não tinha máquina. Veja se pode uma coisa dessas” me pergunta.



Renato Gaúcho com a Torcida

Para Faustão ver seu grande amor tratado com piadas e brincadeirinhas se graça pelos torcedores de outros times não foi tarefa fácil.

“É doloroso. E a pilha? Quebrei meu interfone dentro de casa, pois todos os vizinhos queriam me sacanear. Dei uma martelada no telefone e foi quando minha mulher me disse “Você escolhe ou a Young Flu ou eu e me separei em 2008”. Quinze anos de casamento. Não existe mulher, nem nada que me faça abandonar o Fluminense. A Young é minha casa e minha vida. 
Nunca deixarei”, diz emocionado.

Muito emotivo ele afirma sem cansar: “Eu amo, amo, amo o Fluminense. Pode colocar uma mulher maravilhosa que eu fico com o clube. O Fluminense é minha eterna Paixão”.

Ele relembra de episódios divertidos como quando fez um convite a uns bandidinhos que tentaram roubar um dos nossos. “Fui com ele e o meu cachorro Boldinho convidar os caras pra conhecer a sede”, conta com um sorriso divertido.

Outra história engraçada viveu ao lado do seu amigo Igor, da Super Flu. Foram juntos para uma festa a fim de namorar as meninas e para criar um clima romântico pediu ao Igor que escolhesse uma música romântica.

“Ele me coloca o hino do Fluminense cantado pelo Lamartine Babo. Naquelas vitrolas antigas, que tinha que colocar algum peso pequeno para segurar a agulha, bem antigas. Elas foram embora e ninguém namorou ninguém. Ficaram revoltados com ele” conta sorrindo.

Por falar em Igor. Ele era aquele torcedor que não comia arroz e feijão juntos. Comia arroz e salada de alface, tomate e cebola, pelas cores.

Meu amigo conheceu o mundo através da Young desde os treze anos e sente saudades do tempo em que ele e os amigos amarravam uma linha nas fichas de orelhão para pode falar e Puxavam a linha ao final da ligação. O ponto de encontro dessa galera era a Praça Barão Drummond, em Vila Isabel.

Faustão entre Júnior e um dos fundadores da YOUNG Sobral

E durante o papo ele volta ao passado e me fala de um motivo que lhe causou grande alegria. “Aquela celebração do título de 1995, onde a galera da Young foi caminhando do Maracanã até o Méier está gravada na memória. Compramos um bar com cinco geladeiras cheias de cerveja. Dez anos sem um título. O grito estava engasgado”, diz ele.
E vai além:

“Dormimos uma semana no maracanã para fazer as cangalhas de fogos. Ficávamos para economizar. Essa foi a festa mais bonita que a minha Young preparou. E já dormi muito na sede da Young para vigiar e não deixar alguém pular o muro. Ficava de guarda a noite toda, com o meu cachorro Baldinho”.

Muita emoção durante a entrevista. Ele que já me havia feito chorar solta essa:

“Respeito a todos os clubes, mas a fidalguia pura é nossa. Não existe nada igual. Não nascemos clube de regatas”, encerra meu amigo do coração.




Gratidão Faustão!!!! Saudações Tricolores

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