Sua paixão começou
aleatoriamente. Não conhecia ninguém da torcida. Foi num jogo no Maracanã, em
mil novecentos e oitenta e tantos em que as primeiras amizades foram feitas e
ele começou a frequentar a sala do estádio 335B, galpão do seu Armando Giesta. Falo
aqui do meu amado Marcelo Serro. Não sabe de quem estou a falar? Falo de Faustão
que está até hoje com essa torcida. “São trinta anos e daqui não vou sair
jamais”, diz ele.
Como aconteceu o
encantamento? Pelas cores mais bonitas e pelo círculo de amizade, a união dos
amigos era o que mais o fazia feliz. Sua matrícula dessa nova geração é 0.003.
E enquanto ele nutria no
peito esse amor incondicional por sua torcida, o pai era flamenguista e delegado
totalmente as organizadas. De colocar viatura do GEPE atrás dele.
“Eu ia de soco inglês,
touca ninja, bermuda e camiseta e já tive que correr de muitos canas para não
ser posto para fora do estádio. Isso me fez sair de casa aos dezesseis anos,
logo depois que minha mãe se foi. Ele não tinha poder sobre mim e eu fiz o que
queria” conta.
A primeira camisa foi um
presente do amigo Luizinho, que comprou um saco cheio delas e distribuiu para
alguns dos nossos. “Minha primeira camisa nem foi do Fluminense e sim da Young
Flu. Ainda a guardo e ela está toda furadinha, mas é minha pele”, faz questão
de ressaltar.
Faustão me diz que nunca
brigou com ninguém da Young e, como em todo grupo, acontecem discussões e
alguns se estranham e no final tudo é resolvido. Brigar jamais. É sua minha
família, sua minha vida.
Primeira vez que pisou no
Maracanã foi ara assistir Fluminense e Vasco, em 1984, naquele jogo onde o Romerito
fez o gol. Inclusive foi nesta partida que iniciou as amizades que mantêm até
hoje. Ele cita Marcelo Ameba, Sobral, Armandão, Ratão, Leleu (da banca de
jornal), seu Armando.
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Junior, Faustão, Fofo e Neném |
E me revela algo muito
especial. Os integrantes da torcida se comunicavam através de cartas publicadas
no Jornal dos Sports, numa coluna
para leitores. Aos 13 anos iniciou sua jornada no mundo das Caravanas:
“Uma das que mais me
marcou foi quando fomos para o Fonte Nova, na Bahia, em 1992. Perdemos para o
Bragantino no Maracanã e fomos até a Fonte Nova para fazer o jogo de volta.
Vencemos por dois a um, Ézio fez o dele. Demoramos três dias para chegar ao
estádio. Viajamos por uma empresa chamada Pérola Tour. O ônibus quebrou seis
vezes. Saímos do Rio na meia noite de sexta-feira e só chegamos lá no domingo
pelas quatro da tarde. Sem comer, sem beber, viajávamos sem dinheiro. Era tudo
por amor. Nessa viagem comemos limão galego, que o Cassyano achou, e ficamos
com a boca toda assada pela acidez da fruta. Chutei até uma macumba que tinha
atrás do nosso gol. Largava família, largava tudo e sem um real ia junto”,
revela.
Sensacional é a palavra
que ele escolhe para definir as viagens. “Era como se fosse a minha verdadeira
família. Alguns dizem que você vive melhor com um estranho do que com um
parente e eu concordo”.
Ele me confessa sorrindo
que passava rifa nas Laranjeiras, mesmo sem ter prêmio nenhum, era meio que um
golpe. Inclusive dizia que era para ajudar a pagar o enterro da mãe de alguns
jogadores. “Esquecíamos das mães que usamos e ao refazer a rifa alguns
perguntavam: “A mãe dele já não morreu? Comprei essa rifa tem um tempo”.
E tudo isso para conseguir
alugar um ônibus e viajar. Coisas que só um louco de amor faz.
“Já loquei um ônibus
usando cheque sem fundos para vermos o Fluminense x Palmeiras no Parque Antártica.
E tudo isso valeu a pena, faria de novo”, declara.
Nos anos 80 pulou muito o
portão dezoito. Ele e o grupo de parceiros faziam isso pelas dez da manhã e se
escondiam na sala do Fluminense. Todo mundo sem ingresso.
“Eu, Tia Helena, Sobral,
Luizinho, Armando Gordo fazíamos uma vaquinha e um de nós ia até a cantina do
Maracanã comprar uma quentinha para dividirmos. Ia rodando e cada um dava uma colherada.
No final do jogo, material todo dobrado e bandeiras organizadas nas prateleiras.
Tinha um pessoal que as levava para lavar e quarar no galpão do seu Armando
Giesta na segunda-feira. Tínhamos muito zelo e amor pelo nosso material”,
narra.
Como Faustão só usava uma
bermuda preta era motivo de piadas e a tal bermuda recebeu o nome de coador de
café. E foi com soco inglês na mão direita, a bermuda e seu pai correndo atrás
dele que sua vida se fez.
Ele conta com orgulho que
ajudou a acabar com a briga entre a Young Flu e a Gaviões da Fiel.
“Eu e Manoel fomos os
responsáveis pela paz entre as torcidas do Fluminense e do Corinthians. A rixa
era antiga e começou naquela invasão deles no Maracanã em 1974. Fomos para São
Paulo fizemos amizade com um rapaz chamado Magrão que nos mostrou um rasgo que
tinha da garganta até o umbigo, alegando que havia sido feito por integrantes
da Young. Explicamos a ele que éramos da nova geração e que estávamos ali na
paz. E assim foi feito. Para ter ideia eu sou respeitado até hoje. De entrar na
arquibancada e ficar na torcida deles. Teve um jogo onde o São Paulo venceu com
três gols do Raí, em 1981. Eu no meio da Gaviões da Fiel com a camisa da Young
Flu no meio daqueles torcedores usando preto. Só eu de blusa branca. só eu
podia e tenho testemunhas”, recorda.
E ainda me conta feliz de
uma “brincadeirinha” conta os vascaínos, no primeiro jogo do Brasileirão de
1992. “Coloquei uma faixa da Young em cima da Gaviões da Fiel no jogo contra o
Vasco e posso garantir que fui o único que fez isso”.
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Renato Gaúcho comemorando o Gol de barriga |
Ídolos e parceiros
“O Casal 20 me marcou e contra
o Flamengo eram melhores ainda. Assisti a um Fla x Flu no Maracanã com 149 mil
pessoas, um verdadeiro recorde. Estava lá gritando “Nense” naquela arquibancada de cimento”, descreve.
E seus melhores parceiros
de arquibancada eram Carlinhos, William Maluco,Metaleiro, Paulinho Bife , Mão
de Cobra, Leleu, Mosca, Lucio Juramento. E explica o motivo desses apelidos. “Era
um código nosso. Ficava mais fácil marcar o nome de cada um. Foi assim que
ganhei o meu apelido de Faustão, desde a época daquele programa que ele fazia Perdidos na Noite“, explica.
O seu título mais
importante, tirando o tricampeonato, foi o de 1995, com aquele gol de barriga
do Renato Gaúcho. “Ficamos uma sequência de anos sem ganhar nada e éramos
motivo de chacota. E a gente acompanhando. Essa geração que só viu timão jogar
não sabe de nada. Ver time com craques é mole, quero ver permanecer junto com
as derrotas. Peguei uma época triste onde vi Marcelo Silva, Marcelo Barreto,
Marcelo Costa. Era tanto Marcelo. Tinha o Rogerinho, Zanata, Itaberá jogadores
ruins para o clube. Peguei a pior fase do clube e não abandonei nunca”.
Ele tem uma mágoa da época
do rebaixamento. Não pelo time, a culpa não foi do time. Ele atribui essa culpa
a “dois safados: Gil Carneiro de Mendonça e Arnaldo Santiago. Eles acabaram com
o Fluminense. Te dou um exemplo: Fluminense x Náutico lá na casa do caralho, e
eles colocavam cabritos e bodes para pastar e deixar o campo em “condições” de
jogo. Não tinha máquina. Veja se pode uma coisa dessas” me pergunta.
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Renato Gaúcho com a Torcida |
Para Faustão ver seu
grande amor tratado com piadas e brincadeirinhas se graça pelos torcedores de
outros times não foi tarefa fácil.
“É doloroso. E a pilha?
Quebrei meu interfone dentro de casa, pois todos os vizinhos queriam me
sacanear. Dei uma martelada no telefone e foi quando minha mulher me disse “Você
escolhe ou a Young Flu ou eu e me separei em 2008”. Quinze anos de casamento.
Não existe mulher, nem nada que me faça abandonar o Fluminense. A Young é minha
casa e minha vida.
Nunca deixarei”, diz emocionado.
Muito emotivo ele afirma
sem cansar: “Eu amo, amo, amo o Fluminense. Pode colocar uma mulher maravilhosa
que eu fico com o clube. O Fluminense é minha eterna Paixão”.
Ele relembra de episódios
divertidos como quando fez um convite a uns bandidinhos que tentaram roubar um
dos nossos. “Fui com ele e o meu cachorro Boldinho convidar os caras pra
conhecer a sede”, conta com um sorriso divertido.
Outra história engraçada
viveu ao lado do seu amigo Igor, da Super Flu. Foram juntos para uma festa a
fim de namorar as meninas e para criar um clima romântico pediu ao Igor que
escolhesse uma música romântica.
“Ele me coloca o hino do
Fluminense cantado pelo Lamartine Babo. Naquelas vitrolas antigas, que tinha
que colocar algum peso pequeno para segurar a agulha, bem antigas. Elas foram
embora e ninguém namorou ninguém. Ficaram revoltados com ele” conta sorrindo.
Por falar em Igor. Ele era
aquele torcedor que não comia arroz e feijão juntos. Comia arroz e salada de
alface, tomate e cebola, pelas cores.
Meu amigo conheceu o mundo
através da Young desde os treze anos e sente saudades do tempo em que ele e os
amigos amarravam uma linha nas fichas de orelhão para pode falar e Puxavam a linha
ao final da ligação. O ponto de encontro dessa galera era a Praça Barão Drummond,
em Vila Isabel.
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Faustão entre Júnior e um dos fundadores da YOUNG Sobral |
E durante o papo ele volta
ao passado e me fala de um motivo que lhe causou grande alegria. “Aquela celebração
do título de 1995, onde a galera da Young foi caminhando do Maracanã até o
Méier está gravada na memória. Compramos um bar com cinco geladeiras cheias de
cerveja. Dez anos sem um título. O grito estava engasgado”, diz ele.
E vai além:
“Dormimos uma semana no
maracanã para fazer as cangalhas de fogos. Ficávamos para economizar. Essa foi
a festa mais bonita que a minha Young preparou. E já dormi muito na sede da
Young para vigiar e não deixar alguém pular o muro. Ficava de guarda a noite
toda, com o meu cachorro Baldinho”.
Muita emoção durante a
entrevista. Ele que já me havia feito chorar solta essa:
“Respeito a todos os
clubes, mas a fidalguia pura é nossa. Não existe nada igual. Não nascemos clube
de regatas”, encerra meu amigo do coração.
Gratidão Faustão!!!!
Saudações Tricolores
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