quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Boto e o verde da sua Força Flu

O ano era 1959. O jogo Fluminense x Botafogo no Maracanã. O pai botafoguense o levou para assistir sem saber que seu filho não seguiria a sua tradição de usar a camisa preto e branca. Foi justo neste dia em que Sérgio Roberto Azevedo Ribeiro, o Boto, caiu de amores pela armadura verde, branca e grená.

“Papai sempre foi muito democrático, inclusive me levava muitas vezes aos jogos, em 1963 vi as duas decisões”, explica.

E foi do pai que ganhou sua primeira camisa do Fluminense. “Na época, não tínhamos a facilidade de ter camisas do clube como hoje. E meu pai me deu muita alegria com o presente”, conta ele.

Como foi estudar em Campos em meados de 1965, ele parou de frequentar o templo sagrado do futebol e retornou com gás total em 1969, quando voltou a morar no Rio.  

“Conheci várias pessoas que, como eu, gostavam de ficar atrás do gol. Com estes amigos formamos uma torcida dissidente. O GB, Valtinho, João Cysne e eu todos nos unimos para fundar a Força Flu e logo cuidamos de fazer as camisas”, recorda.

Quando morou no Méier, todos os domingos eram sagrados os encontros da torcida Força Flu na porta do Maracanã. A torcida tinha uma salinha atrás do gol e seus componentes chegavam mais cedo para empacotar talco e arrumar tudo para entrar em campo.


A primeira formação da Força Flu

E participar das caravanas era algo que Boto adorava e carrega muitas lembranças daqueles bons tempos até hoje. Segundo ele, tudo era muito bem organizado e divertido e as amizades que fez são para sempre, como uma família. Eles geralmente saiam no sábado a noite e o ponto de encontro era o edifício da Avenida Central.

“Uma das viagens mais divertidas que fiz foi organizada pelo Sérgio Aiub, para um jogo contra o Atlético Mineiro, no Mineirão. Lembro que a situação estava muito ruim para o clube naquele tempo e ele não conseguiu lotar um ônibus. Com isso, resolvemos ir num ônibus de carreira. Tínhamos um companheiro o Carlos, que todos conheciam como boneca, e durante a viagem e no meio daquela brincadeira ele levantou e disse: “Gente agora vou vestir a minha roupa dormir”. E ele não entrou no banheiro e saiu vestindo um babydoll. Era tudo muito engraçado” conta ele.

E ele elogia muito a figura do querido Sergio Aiub e como sempre tratou a todos com humanidade. “Um cara sensacional que me lembra um pouco do Chacrinha. E era um animador por natureza, impossível ficar parado perto dele que estava sempre incentivando o clube. Outro grande amigo. Também tive o privilégio de conhecer o Bolinha e o Paulista, grandes pessoas e mais antigos do que o Sérgio. No entanto o Aiub é o grande ídolo e mestre de todos nós” declara.

Boto entre os amigos na festa de comemoração dos 45 anos da Força Flu
Outra passagem divertida foi num jogo contra o Palmeiras, no Parque Antártica. “Fomos junto com o Armandão e outros componentes da Young Flu. E antes da partida passamos na casa de uma família amiga de italianos e junto conosco um tricolor amigo nosso que usava um com o cabelo bem comprido. Antes da despedida, a senhora muito simpática perguntou: “Não tem problema vocês irem ao jogo com essa mocinha?” Resultado, rimos muito e voltamos para o Rio gozando da cara dele”.

E teve o caso do roubo do Bumbo da torcida e ele e Armando Alcoforado, da Young Flu saíram a procurá-lo pelo estádio. “Tenho muitas lembranças e passagens dessa época de torcida. E apesar de ser fundador da Young Flu, o Armando é meu parceirão. Inclusive nos bares da vida, quando o jogo terminava, era sempre ele, eu e o Valtinho”, diz.

FlaxFlu, Rivelino e promessa pelo título

Para Boto, o Fla x Flu é o clássico dos clássicos e seu primeiro foi no ano de 1963. “Fluminense empatou no primeiro turno em 3 x 3 e no finalzinho do campeonato empatamos em 0 x 0 com o Escurinho chutando na trave. Inclusive o reencontrei três anos atrás, na casa do Francisco Cysne, e ele já bem idoso não recordava-se de nada” conta.
E quando o assunto tem a ver com seus ídolos, ele cita Castilho, Valdo, Escurinho, Altair e confessa seu grande amor por Roberto Rivelino.

“Lembro dos lançamentos que ele fazia para o ataque e das faltas que batia. Era uma coisa impressionante. Um atleta que armava todo o ataque do Fluminense. Um cara centralizador e mesmo assim o que ele distribuía de bolas de um lado e de outro. E as faltas? E os lançamentos? Ele fazia lançamento para o Gil de 40, 50 metros com uma precisão que era impressionante. E ele com a bola dominada deixava qualquer defesa maluca”, fala sobre seu craque favorito.

Boto celebra vários títulos do Fluminense e me conta que em 1964 foi com seu vizinho assistir um jogo contra o Bangu que foi seu primeiro título. Em 1969, quando assistiu em Campos, a semifinal contra o Flamengo, e viu o Fluminense vencer por 3 x 2. Também não esquece o tricampeonato de 83 / 84 e 85 que foi muito marcante.

“E tem a minha história da promessa em 1971. Era o jogo da final do Campeonato Carioca: Fluminense x Botafogo. Eles tinham um time superior ao nosso só que aos poucos começaram a relaxar e perder para os times pequenos. E no finalzinho da partida o Lula fez aquele gol. Daí meu pai e a torcida do Botafogo deixaram o estádio e eu fiquei. Não podia contar sobre a promessa feita ao meu pai. E fui a pé do Maracanã até o Méier”, diz ele sorrindo.

Ele também sofreu pelo clube e tem como uma de suas maiores tristezas a morte do zagueiro Ari Ercílio, em 1972. Ele foi pescar em companhia de sua mulher, Helena, na Gruta da Imprensa, escorregou numa rocha, caiu no mar e não voltou mais. “Era um bom sujeito, uma pessoa muito bacana e acessível. Fiquei muito sentido. Ajudamos na busca e tudo, mas de nada adiantou, foi bem complicado”. 

O trio Artime, Gerson e Ari Ercílio


As mulheres e sua paixão pelo Flu

Ele foi noivo duas vezes. A primeira era tricolor e quando ela reclamava e pedia atenção especial ele dizia: “vamos ao jogo comigo. Acredita que ela se recusou a assistir a estreia do Rivelino?”.

Sua atual esposa, apesar de ser flamenguista, convive bem com o amor desmedido do marido. Só teve uma vez em que a coisa pegou e ela quase deixou o Boto sem entrar em casa.

“Foi uma final contra o Vasco, onde o Edinho fez o seu, e ganhamos o título. Saímos de Angra dos Reis, eu e dois amigos, de ônibus e o jogo terminou tarde e perdi o último horário da condução. Não levei chave, nem nada para evitar perder. Foi complicado para ela entender o motivo do marido chegar em casa duas horas da manhã. No final nos entendemos”.

E o que é ser tricolor para o Boto:

“O Fluminense é tudo para mim. E sou conhecido em Parati por todos como o Tricolor. As pessoas me param para conversar sobre futebol e acho isso sensacional. É uma grande alegria essa interatividade. Vivi momentos inesquecíveis. Muito bom ter essas lembranças do passado ainda fervilhando em minha mente”.


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