segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A fidalguia de João Venancio Cysne

Joao e o pai comemorando seu aniversário
Seu coração bateu em compasso tricolor desde o dia em que foi gerado. “Aquele espermatozoide do papai era verde, branco e grená”, diz com um sorriso farto Joao Venancio Cysne, um dos primeiros componentes da fabulosa torcida Força Flu. Isso em meados dos anos 70.

Ele tem muita história para contar. O grande exemplo recebeu de seu pai, o velho Chico, um exemplo de torcedor apaixonado por seu time. Ele era um daqueles tricolores bem fanáticos que só esperou o filho caçula sair das fraldas para iniciá-lo no mundo do futebol.

“Para ter uma ideia ele me levava a todos os jogos do Fluminense no colo ao lado do meu irmão mais velho Antônio. E meu pai ia ver o infantil, o juvenil, o profissional. Era o Fluminense em campo e lá estava ele. E não só nas Laranjeiras, ele gostava de percorrer os estádios cariocas. Com isso me apaixonei pelo clube”, conta.

E quem lhe presenteou com a primeira camisa tricolor foi sua mãe. Ganhou ele e o irmão Antônio. “Temos uma foto desse dia, na Praça do Lido. Ela era em preto e branco e eu não sosseguei até conseguir um profissional que trabalhasse para colorir o material. Queria ver nossas três cores no papel”, diz.


Joao e Antônio com a camisa tricolor na Praça do Lido

Aos sete anos assistiu ao seu primeiro Fla x Flu, a final de 1963, o maior recorde de público na época. Infelizmente a mulambada foi campeã com um empate e até hoje esse jogo está marcado na memória, assim como aquele gol que o Escurinho perdeu no final da partida. No entanto, em 1964 o Fluminense sagrou-se campeão e ele estava lá com seus oito anos vivenciando tal emoção.

E o clássico dos clássicos sempre foi marcante em sua vida. “Em 1969, tivemos uma partida inesquecível, com gol do Flávio no final do Jogo, vencemos por 3 x 2. Teve aquele com Manfrini e Dionísio, em 1973; o gol de barriga do Renato Gaúcho”, recorda.

A primeira vez em que viu o seu time de coração conquistar um título foi naquele jogo contra o Bangu, no Maracanã, onde o Flu venceu por 3 x 1. Ele foi com seu pai nas cadeiras.

“Quase não fui ao jogo, pois minhas notas estavam baixas e minha mãe pensava no castigo. Só que papai me levou e eu lembro que no final do jogo, corria de um lado para o outro, olhando a torcida e já pensava que um dia faria parte dela. Na época tinha a Organizada e a Dissidente Flu, do Bolinha, que ficava com um sino nas mãos, e eu adorei o nome”, diz ele.

Jardel, Wilton, Samarone, seu pai e ele 

Esse negócio de torcida sempre mexeu muito com ele. Inclusive com apenas 12 anos já queria montar a CopaFlu, pois morava em Copacabana, entre a Prado Junior e a Praça do Lido, e tinha vários amigos tricolores no bairro. Foi neste momento em que veio o convite da Força Flu.



Entrada na Força Flu

Foi num jogo no Maracanã, ao lado do GB, Valtinho, Laranjeiras e Mário Márcio quando o GB e o Eduardo o convidaram a fazer parte. Eles lhe disseram:

“Você ainda é muito moleque para fundar uma torcida. Vem com a gente que vai tomar conta das bandeiras”.
Caravana para o Beira Rio e a primeira bandeira da torcida
E Joao Venancio ficou radiante. Tudo o que ele mais queria era participar ativamente de uma torcida do Fluminense. “Quando eu ficava na arquibancada adorava ver o Bolinha e seu estio despojado de se arrumar. Costumava usar sandálias, fumar seu charuto e balançar aquele sino dele. Observava muito o Paulista, da Organizada, que era muito tradicional e usava camisa tricolor, calça branca, sapato branco. O Sérgio Aiub era mais discreto.  Achava bacana aquele ritual todo. Foi quando conheci o Valtinho”, comenta.

A primeira reunião da Força Flu aconteceu na casa do GB ncom as presenças de Joao, Zenildo, GB, Eduardo, Valtinho, Gigi, Bibi, o Boto, Laranjeiras e o Romano. 

Primeira camisa da Força Flu enquadrada
“Era paixão pura. Quem escolheu as cores da primeira camisa da torcida fui eu e o Valtinho. A cor verde dava outro estilo. Lembro como se fosse hoje, fizemos essa camisa na loja King Sport, no edifício Central, na Avenida Rio Branco”.

E nesse ambiente ele cresceu, assim com sua torcida que fazia tudo por amor ao clube. Depois dos jogos, passava a bandeira do Fluminense pela arquibancada e recolhia dinheiro para comprar talco, bandeiras e adereços para o próximo jogo. A torcida em geral sempre ajudou a organizada.

Ele afirma que a Força Flu tem que agradecer muito ao Sérgio Aiub que sempre os apoiou desde a criação da torcida, emprestando até instrumentos. “Ele sempre foi um homem inteligente, agregador e sem egoísmos. Percebeu que a torcida tinha que ser jovem e pegou o nome da Jovem Flu, que vinha do Nelson Motta, Hugo Carvana, Elis Regina, e batizou a sua Torcida Organizada Jovem Flu. Só tenho que dizer muito obrigado por tudo Mestre.”


Momentos marcantes

E os dias de jogos eram dias de festa. Morador de Copacabana colocava todos os seus amigos todos uniformizados no ponto para pegar o Méier – Copacabana rumo ao Maracanã. “Nisso já vinha uma galera que morava na Sá Ferreira, Posto 6, Geraldo e seu irmão Zequinha, Gilson e outros mais fazíamos uma festa antes do jogo com direito a pó de arroz e tudo dentro do transporte”, conta.

Festa de 30 anos da torcida: Denise, João Carlos, Silvia, Eduardo, Laranjeiras, Valmir, Valtinho, GB, Julio e ele 

E ele pode se gabar de uma coisa. De 1964 até hoje, o único título que não viu foi o conquistado em 2012, naquele jogo contra o Palmeiras. Joao Venancio pode dizer que esteve em todas as finais de seu tricolor.

Agora, o título inesquecível foi em 1971 com um gol do Lula aos 43 minutos. “Ubirajara empurra o Marco Antônio e o Lula faz o gol. A torcida do Botafogo já gritava “tá chegando a hora”. Desmaiei no estádio. Acordei num bar com o pessoal jogando água em meu rosto. Foi uma conquista suada. Estávamos sete pontos atrás do Botafogo e chegamos lá. Nesse dia achei que meu coração ia parar de bater”, diz ele emocionado.

O primeiro ídolo foi Castilho, até porque seu pai era apaixonado pelo arqueiro e também era fã de Félix, um craque da Seleção. Inclusive chegou a brigar com um moleque que falou que o goleiro havia tomado um frango durante a Copa de 1970.

Depois Samarone, Flávio, Rivelino, Casal 20, Edinho e Renato Gaúcho.


Alegrias e tristezas

Todas as vitórias em cima da mulambada o deixam feliz. E Joao ficou radiante quando recebeu a sua benemerência no clube. “Tenho 52 anos de sócio do clube e isso quer dizer que contribui em algo para o crescimento do meu tricolor. Tudo é feliz no Fluminense”, afirma. Atualmente mora em Brasília e faz questão viajar para o Rio nos dias de jogos com  o intuito de acompanhar o time. “Minha vida é o Fluminense”, diz ele.

Sobre as tristezas, é impossível não notar a mudança no tom de sua voz quando cita a fatídica partida da final da Libertadores. 

“Na verdade, foi o dia mais triste e o mais feliz, pois nunca vi uma festa igual quando o Fluminense entrou em campo. Sinceramente foi de emocionar e só de recordar já me faz arrepiar. Eu estava alucinado e sei que Deus queria um bom momento para todos os tricolores ali presentes. Infelizmente não deu”, declara.

E outro dia muito triste foi quando venderam o Flávio, um jogador que Joao estimava por demais.  


Namoro x paixão pelo Flu

Ele assume ter sido um pouco namorador nesta fase. No entanto tinha uma regra só aceitava se a menina fosse tricolor, caso contrário não tinha negócio. “Namorava uma menina e ela era vascaína, seu pai era fanático, e um belo dia a levei ao cinema e a pedi em namoro, claro com a condição dela virar casaca e torcer pelo Fluminense. E a moça apaixonada atendeu ao seu pedido contrariando o próprio pai. Joao me conta que depois que o namoro terminou, ela continuou tricolor e ainda casou-se com um. 

“Só fiz bem a ela”, comenta em tom brincalhão.

E parece que ele tem jeito para a coisa. Sua segunda mulher, a Scheila, era vascaína e converteu-se em tricolor a ponto de viajar com ele para os jogos. “Se não for tricolor não tem casamento, não tem paixão, não tem nada”, comenta.

Jr, Joao e Mariana no Maracanã

E esse amor também descompassou o coração dos filhos, Mariana e JR. No aniversário de quinze anos deu para ambos o título de sócio proprietário de presente. Sem dúvida Joao é um pai orgulhoso e enche o peito ao afirmar que os filhos são fanáticos. Sem dúvida um amor que passa de geração para geração. 


A tatuagem

Em 2009 quando estávamos para cair, Joao descia a escada rolante da Tribuna d Maracanã. Fluminense tinha perdido para o Coritiba e ele liguou para o JR. “Meu filho acho que esse ano não vai ter jeito”, disse a ele. 

Cheguou em Brasília na segunda-feira e quando encontrou com o filhote foi apresentado a uma tatuagem que o rapaz fez embaixo do pescoço. “Papai, o Flu não vai cair. Promete que se conseguirmos fará uma tatuagem também”, me perguntou.


A tatuagem de Joao Venancio

"Aceitei a proposta. Só que não a cumpri. E veio 2013 e o Fluminense foi rebaixado. No sábado seguinte fiz a tatuagem no meu braço e na sequência houve aquele lance com a Portuguesa. Fluminense não caiu. Será que foi a tatuagem que paguei atrasada contribuiu?”, me pergunta ele.

Vai saber. Tem coisas que nem o Sobrenatural de Almeida consegue explicar.

E como diz a Força Flu: "Muitos nos viram nascer... Ninguém nos verá morrer!!!


Saudações Tricolores!







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