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Joao e o pai comemorando seu aniversário |
Seu coração bateu em
compasso tricolor desde o dia em que foi gerado. “Aquele espermatozoide do
papai era verde, branco e grená”, diz com um sorriso farto Joao Venancio Cysne,
um dos primeiros componentes da fabulosa torcida Força Flu. Isso em meados dos
anos 70.
Ele tem muita
história para contar. O grande exemplo recebeu de seu pai, o velho Chico, um
exemplo de torcedor apaixonado por seu time. Ele era um daqueles tricolores bem
fanáticos que só esperou o filho caçula sair das fraldas para iniciá-lo no
mundo do futebol.
“Para ter uma ideia ele me
levava a todos os jogos do Fluminense no colo ao lado do meu irmão mais velho
Antônio. E meu pai ia ver o infantil, o juvenil, o profissional. Era o
Fluminense em campo e lá estava ele. E não só nas Laranjeiras, ele gostava de
percorrer os estádios cariocas. Com isso me apaixonei pelo clube”, conta.
E quem lhe presenteou com a
primeira camisa tricolor foi sua mãe. Ganhou ele e o irmão Antônio. “Temos uma
foto desse dia, na Praça do Lido. Ela era em preto e branco e eu não sosseguei
até conseguir um profissional que trabalhasse para colorir o material. Queria
ver nossas três cores no papel”, diz.
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Joao e Antônio com a camisa tricolor na Praça do Lido |
Aos sete anos assistiu ao
seu primeiro Fla x Flu, a final de 1963, o maior recorde de público na época.
Infelizmente a mulambada foi campeã com um empate e até hoje esse jogo está
marcado na memória, assim como aquele gol que o Escurinho perdeu no final da
partida. No entanto, em 1964 o Fluminense sagrou-se campeão e ele estava lá com
seus oito anos vivenciando tal emoção.
E o clássico dos clássicos
sempre foi marcante em sua vida. “Em 1969, tivemos uma partida inesquecível,
com gol do Flávio no final do Jogo, vencemos por 3 x 2. Teve aquele com
Manfrini e Dionísio, em 1973; o gol de barriga do Renato Gaúcho”, recorda.
A primeira vez em que viu
o seu time de coração conquistar um título foi naquele jogo contra o Bangu, no Maracanã, onde o Flu venceu por 3 x 1. Ele foi com seu pai nas cadeiras.
“Quase não fui ao jogo,
pois minhas notas estavam baixas e minha mãe pensava no castigo. Só que papai
me levou e eu lembro que no final do jogo, corria de um lado para o outro,
olhando a torcida e já pensava que um dia faria parte dela. Na época tinha a
Organizada e a Dissidente Flu, do Bolinha, que ficava com um sino nas mãos, e
eu adorei o nome”, diz ele.
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Jardel, Wilton, Samarone, seu pai e ele |
Esse negócio de torcida sempre
mexeu muito com ele. Inclusive com apenas 12 anos já queria montar a CopaFlu,
pois morava em Copacabana, entre a Prado Junior e a Praça do Lido, e tinha vários
amigos tricolores no bairro. Foi neste momento em que veio o convite da Força
Flu.
Entrada
na Força Flu
Foi num jogo no Maracanã,
ao lado do GB, Valtinho, Laranjeiras e Mário Márcio quando o GB e o Eduardo o
convidaram a fazer parte. Eles lhe disseram:
“Você ainda é muito
moleque para fundar uma torcida. Vem com a gente que vai tomar conta das
bandeiras”.
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Caravana para o Beira Rio e a primeira bandeira da torcida |
E Joao Venancio ficou
radiante. Tudo o que ele mais queria era participar ativamente de uma torcida
do Fluminense. “Quando eu ficava na arquibancada adorava ver o Bolinha e seu
estio despojado de se arrumar. Costumava usar sandálias, fumar seu charuto e balançar
aquele sino dele. Observava muito o Paulista, da Organizada, que era muito
tradicional e usava camisa tricolor, calça branca, sapato branco. O Sérgio Aiub
era mais discreto. Achava bacana aquele
ritual todo. Foi quando conheci o Valtinho”, comenta.
A primeira reunião da
Força Flu aconteceu na casa do GB ncom as presenças de Joao, Zenildo, GB,
Eduardo, Valtinho, Gigi, Bibi, o Boto, Laranjeiras e o Romano.
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Primeira camisa da Força Flu enquadrada |
“Era paixão
pura. Quem escolheu as cores da primeira camisa da torcida fui eu e o Valtinho.
A cor verde dava outro estilo. Lembro como se fosse hoje, fizemos essa camisa
na loja King Sport, no edifício Central, na Avenida Rio Branco”.
E nesse ambiente ele
cresceu, assim com sua torcida que fazia tudo por amor ao clube. Depois dos
jogos, passava a bandeira do Fluminense pela arquibancada e recolhia dinheiro
para comprar talco, bandeiras e adereços para o próximo jogo. A torcida em
geral sempre ajudou a organizada.
Ele afirma que a Força Flu
tem que agradecer muito ao Sérgio Aiub que sempre os apoiou desde a criação da torcida,
emprestando até instrumentos. “Ele sempre foi um homem inteligente, agregador e sem egoísmos. Percebeu
que a torcida tinha que ser jovem e pegou o nome da Jovem Flu, que vinha do
Nelson Motta, Hugo Carvana, Elis Regina, e batizou a sua Torcida Organizada
Jovem Flu. Só tenho que dizer muito obrigado
por tudo Mestre.”
Momentos
marcantes
E os dias de jogos eram
dias de festa. Morador de Copacabana colocava todos os seus amigos todos
uniformizados no ponto para pegar o Méier – Copacabana rumo ao Maracanã. “Nisso
já vinha uma galera que morava na Sá Ferreira, Posto 6, Geraldo e seu irmão
Zequinha, Gilson e outros mais fazíamos uma festa antes do jogo com direito a
pó de arroz e tudo dentro do transporte”, conta.
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Festa de 30 anos da torcida: Denise, João Carlos, Silvia, Eduardo, Laranjeiras, Valmir, Valtinho, GB, Julio e ele |
E ele pode se gabar de uma
coisa. De 1964 até hoje, o único título que não viu foi o conquistado em 2012,
naquele jogo contra o Palmeiras. Joao Venancio pode dizer que esteve em todas
as finais de seu tricolor.
Agora, o título inesquecível
foi em 1971 com um gol do Lula aos 43 minutos. “Ubirajara empurra o Marco
Antônio e o Lula faz o gol. A torcida do Botafogo já gritava “tá chegando a
hora”. Desmaiei no estádio. Acordei num bar com o pessoal jogando água em meu
rosto. Foi uma conquista suada. Estávamos sete pontos atrás do Botafogo e
chegamos lá. Nesse dia achei que meu coração ia parar de bater”, diz ele
emocionado.
O primeiro ídolo foi
Castilho, até porque seu pai era apaixonado pelo arqueiro e também era fã de Félix,
um craque da Seleção. Inclusive chegou a brigar com um moleque que falou que o
goleiro havia tomado um frango durante a Copa de 1970.
Depois Samarone, Flávio,
Rivelino, Casal 20, Edinho e Renato Gaúcho.
Alegrias
e tristezas
Todas as vitórias em cima
da mulambada o deixam feliz. E Joao ficou radiante quando recebeu a sua
benemerência no clube. “Tenho 52 anos de sócio do clube e isso quer dizer que
contribui em algo para o crescimento do meu tricolor. Tudo é feliz no
Fluminense”, afirma. Atualmente mora em Brasília e faz questão viajar para o
Rio nos dias de jogos com o intuito de
acompanhar o time. “Minha vida é o Fluminense”, diz ele.
Sobre as tristezas, é
impossível não notar a mudança no tom de sua voz quando cita a fatídica partida da final
da Libertadores.
“Na verdade, foi o dia mais triste e o mais feliz, pois nunca
vi uma festa igual quando o Fluminense entrou em campo. Sinceramente foi de
emocionar e só de recordar já me faz arrepiar. Eu estava alucinado e sei que
Deus queria um bom momento para todos os tricolores ali presentes. Infelizmente
não deu”, declara.
E outro dia muito triste
foi quando venderam o Flávio, um jogador que Joao estimava por demais.
Namoro
x paixão pelo Flu
Ele assume ter sido um
pouco namorador nesta fase. No entanto tinha uma regra só aceitava se a menina
fosse tricolor, caso contrário não tinha negócio. “Namorava uma menina e ela
era vascaína, seu pai era fanático, e um belo dia a levei ao cinema e a pedi em
namoro, claro com a condição dela virar casaca e torcer pelo Fluminense. E a
moça apaixonada atendeu ao seu pedido contrariando o próprio pai. Joao me conta
que depois que o namoro terminou, ela continuou tricolor e ainda casou-se com
um.
“Só fiz bem a ela”, comenta em tom brincalhão.
E parece que ele tem jeito
para a coisa. Sua segunda mulher, a Scheila, era vascaína e converteu-se em
tricolor a ponto de viajar com ele para os jogos. “Se não for tricolor não tem
casamento, não tem paixão, não tem nada”, comenta.
E esse amor também descompassou
o coração dos filhos, Mariana e JR. No aniversário de quinze anos deu para
ambos o título de sócio proprietário de presente. Sem dúvida Joao é um pai
orgulhoso e enche o peito ao afirmar que os filhos são fanáticos. Sem dúvida um amor que passa de geração para geração.
A
tatuagem
Em 2009 quando estávamos
para cair, Joao descia a escada rolante da Tribuna d Maracanã.
Fluminense tinha perdido para o Coritiba e ele liguou para o JR. “Meu filho acho
que esse ano não vai ter jeito”, disse a ele.
Cheguou em Brasília na
segunda-feira e quando encontrou com o filhote foi apresentado a uma tatuagem que o rapaz fez embaixo do pescoço. “Papai, o Flu não vai cair. Promete que se conseguirmos
fará uma tatuagem também”, me perguntou.
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A tatuagem de Joao Venancio |
"Aceitei a proposta. Só que
não a cumpri. E veio 2013 e o Fluminense foi rebaixado. No sábado seguinte fiz
a tatuagem no meu braço e na sequência houve aquele lance com a Portuguesa.
Fluminense não caiu. Será que foi a tatuagem
que paguei atrasada contribuiu?”, me pergunta ele.
Vai saber. Tem coisas que
nem o Sobrenatural de Almeida consegue explicar.
E como diz a Força Flu: "Muitos nos viram nascer... Ninguém nos verá morrer!!!
Saudações Tricolores!
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