E ele contou com outro mentor no caminho do futebol. O senhor
Gilson, um vizinho tricolor apaixonado pelo clube e de quem ganhou a sua
primeira camisa. E foi com ele que Manoel assistiu ao seu primeiro jogo no
Maracanã, a semifinal do Brasileirão de 1976, com aquela disputa épica contra o
Corinthians, onde houve a ‘invasão Corintiana’. A decisão foi para a cobrança de
pênaltis e o time paulista venceu.
- Eu era criança e me emocionei muito. Ainda guardo na
memória cenas daquele dia e daí por diante passei a defender com todas as
forças o tricolor. Seu Gilson me ajudou a virar um tricolor sadio e fanático, comenta.
Manoel conta que essa partida o faz recordar a história do seu
filho Bruno, que também presenciou uma derrota do Fluminense em seu primeiro
jogo.
- Foi contra o Vasco, com gols do Léo Lima, e mesmo assim ele
seguiu os meus passos e é tricolor. Acho que as derrotas mostram o amor fidedigno
pelo que damos a verdadeira importância, diz.
Atualmente é presidente da Young Flu, componente da torcida
desde 1985, e sempre teve como ideal defender o clube. Segundo ele, uma torcida
organizada geralmente é mal vista pelas pessoas que geralmente as rotulam como violentas.
- Uma torcida organizada é igual a uma sociedade. Ela tem
engenheiros, policiais, advogados, pessoas de todas as classes sociais. Eu
discuto muito isso dentro do clube que acha que tem torcedores de elite e já
não somos de elite tem tempo. Somos uma torcida de massa. Temos mais de dez
milhões de torcedores. Muita coisa mudou
- afirma ele.
Para Manoel uma torcida organizada não tem como objetivo disseminar
a violência, pelo contrário, ele é absolutamente contra isso. A premissa básica
do presidente da Young Flu é estimular o Fluminense, apoiar o clube em todos os
momentos.
- Viajo o Brasil todo e considero o GEPE o melhor
policiamento do Brasil. As brigas geralmente acontecem com pessoas que dizem
ser da torcida e nem sempre são. Não pagam taxa, não têm carteirinha. Eu
trabalho para limpar a imagem da nossa torcida, mas para isso precisamos de uma
ação conjunta com os órgãos responsáveis, comenta.
Para isso o diálogo entre os presidentes das Torcidas
Organizadas e a diretoria do clube é essencial. No entanto isso nem sempre é
fácil.
- Não vou pedir nada ao clube. Eles costumam nos chamar de ‘câncer’
e dizer que só aparecemos lá para tirar. Não é bem assim que funciona. Vou te
contar um caso recente. Fui com mais sete tricolores amigos assistir uma partida
da Copa do Brasil. Saímos daqui para o local onde seria o jogo e decidi ir até
o hotel onde a delegação estava hospedada. Liguei para um amigo e pedi para ele
conseguir ingressos. Ele negou e disse que havia dado para os jogadores. E eu
cito aqui que ele disse que o Cícero ganhou quarenta. Um jogador que ganha 400
mil reais de salário pode ganhar quarenta ingressos, mas oito componentes da
torcida não. Fomos até a bilheteria e pagamos pelos nossos, conta ele.
Em um ano e meio de gestão Manoel conta que só conseguiu
falar com o presidente Peter Siemens duas vezes. Ele não sabe ao certo
especificar qual o tipo de problema que o dirigente tem com as TO’s e conta que
disse a ele “Presidente, se o senhor quiser ajudar, ótimo. Se não, vamos
mostrar a força que temos”.
- O Peter na época se arreganhou, não teve controle e agora
quer dar tapa na cara dos outros. Creio que ele podia pensar com carinho num
projeto maior de sócio torcedor organizado. Quantos são? Mil. E de quanto de
lucro para o clube? Ah deu trinta mil. Então vou dar 5% para colaborar com o
trabalho das organizadas. É uma coisa muito fácil, analisa.
No entanto o presidente demitiu todos os funcionários do
departamento de marketing do clube e terceirizou o setor.
- Isso é chamar o torcedor de burro. Na verdade o torcedor
povão nem faz ideia disso, pois não vive o dia a dia do clube. São poucos os
que têm noção do que acontece. Futebol é paixão e os dirigentes brincam com a
paixão dos outros. Tem gente que larga a mulher mas não larga o clube.
Ele conta que também disse a Peter: “Presidente eu já vi
macumbeiro virar evangélico, vi católico virar macumbeiro, mas nunca vi um
tricolor virar flamenguista. Então o senhor preste muita atenção com que faz
com nosso Fluminense”.
O maior patrimônio que um clube tem é a torcida, isso era
dito por seu “eterno presidente” David Fischel. No momento atual a sede da
Young Flu passa por reformas e para homenagear esse homem que tanto fez pelo
clube haverá uma sala de recepção com o seu nome.
Maior tristeza que Manoel sentiu foi quando seu clube de
coração foi rebaixado, fato que ele considerou muito humilhante e o fez sentir dor,
tristeza, aperto no coração e confessa que chorou. E foi nessa época que
recebeu uma visita especial na antiga salinha no Méier onde a torcida
funcionava.
- Eu era vice-presidente quando fomos rebaixados e aí volto a
ressaltar que a torcida não sabe a força que tem. Um dia, chega o Francisco
Horta para falar com o presidente, o Marcos Tadeu do Carmo, e disse que
precisavam fazer uma reunião. Horta sempre dizia: “Eu compro e a torcida paga”
e era verdade. Ele tinha essa ideologia. Tanto que conseguiu colocar 60 mil
tricolores no Maracanã, num sábado de Carnaval. Não é para qualquer um,
relembra.
O que Horta desejava era contar com o apoio das torcidas para
apoiá-lo num triunvirato, já que ele não podia concorrer ao cargo. David
Fischel seria o candidato à presidência; Francisco Horta cuidaria do
departamento de futebol; e o ex-dirigente José de Souza seria o responsável
pela parte administrativa. Os três uniriam esforços para tentar vencer a
eleição e se transformar assim nos co-gestores do Fluminense. E a torcida
comprou a ideia.
David Fischel fez muito pelo clube e Manoel faz questão de
ressaltar todas as suas conquistas.
- A Unimed veio parar no Fluminense por causa dele; a Adidas
por ele também, assim como o Carlos Alberto Parreira. Aquela sala de
treinamento que o clube tem foi obra dele. Os outros saíram e ele ficou até o
final. Ele era o cara e fechou com a torcida sempre. Por isso prestaremos essa
homenagem a esse grande tricolor, enaltece.
Perder a Copa Libertadores, em 2008, foi o seu grande baque.
A torcida deu um espetáculo, foi guerreira e compareceu em massa ao Maracanã.
Ele diz que o elenco perdeu de cabeça erguida e que para esses atletas bate palmas.
Só que nem de tristezas vive nosso amigo tricolor. Ele já
teve a honra de vivenciar diversos momentos de extrema felicidade como a final
do Campeonato Carioca de 1985, onde o Fluminense venceu o
Flamengo.
- Aquele time tinha Pintinho, Rubens Galaxe, Cláudio Adão e
era desacreditado, só que fomos lá e ganhamos o título. Tem outra história engraçada
de um triangular Fluminense, Flamengo e Bangu. Fomos para o jogo do Flamengo e
vimos o Bangu ganhar. Fomos campeões de novo. Eu estava lá, recorda.
Ele afirma que o maior rival é o Flamengo e que o maior
clássico de todos é o Fla x Flu, conhecido mundialmente.
- Faz parte da história do Rio de Janeiro, ainda mais quando
a bola ia parar lá na Lagoa, diz com um sorriso farto.
Estar no Maracanã é uma das coisas que Manoel mais gosta de
fazer e considera muito emocionante. As pessoas que não gostam de futebol não
entendem.
Ele viu Rivelino jogar e guarda a sete chaves um livro do
atleta, “Vai para casa Roberto”, assinado pelo próprio.
- Eu adorava o futebol dele. Naquela época eu também amava o
Pintinho, o bicho era brabo e não tinha medo de ninguém, além de jogar muita
bola. Tenho simpatia pelo Edinho, que foi um grande jogador. Agora quem fez
meus olhos brilharem foi o Romerito, tem outro não. Depois desse time, ficamos
num período triste. Foram dezesseis anos sem ganhar um título.
Manoel diz que nos dias de hoje o jogador fica um mês sem
jogar, no chinelinho, por atraso de pagamento. Romerito não, ele entrava com ou
sem salário em campo e honrava a camisa. Aquela rapaziada mais antiga era
assim. Para ele, o futebol brasileiro atual carece de ídolos.
- Acho que neste momento no Brasil só vejo dois. O Rogério
Ceni e o Marcos que só jogaram no São Paulo e no Palmeiras. Eles receberam
várias ofertas e nunca saíram. Essas duas torcidas podem bater no peito e dizer
que tem ídolos, dispara.
O que é ser tricolor? Pergunto a ele.
- É ser diferenciado de qualquer time. Eles olham para a
gente com inveja das nossas cores. O escudo mais bonito do Brasil é o nosso e digo
o mesmo da camisa. Tenho um orgulho danado e faço tudo pelo Fluminense.
E faz mesmo. Inclusive se o assunto for relacionamentos. Ele
já chegou ao ponto de acabar um casamento por essa paixão inenarrável. Ela não
aceitava suas viagens constantes e a relação desgastou-se.
- Já casei mais duas vezes depois e o Fluminense continua.
Tudo vai passando na vida menos meu clube. Vou morrer tricolor. Ele é eterno. Tenho
três paixões na minha vida: as minhas famílias, o Fluminense e a Young Flu. E
ninguém mexe com isso, não deixo.
Ele sabe separar o Fluminense da Young Flu e diz que alguns
componentes da torcida são muito apaixonados pela torcida e acabam meio
bitolados, mas que eles têm que saber que a origem da Young Flu é o Fluminense.
- Se algum dia o clube vier a acabar, a torcida acaba junto.
A Young pode acabar mas o Fluminense vai continuar. As pessoas precisam
aprender a dividir isso.
E em sua família todos seguiram o caminho do pai. Os filhos,
três meninas e dois meninos, são tricolores. A última vez que foi junto com a
prole ao Maracanã foi no jogo contra o Guarani, em 2012, e foi muito especial. Manoel
conta que Xandão, o menor, é o mais fanático e fala isso com um orgulho imenso.
Morador de um condomínio na Piedade, ele garante que 95% das
crianças do local são tricolores. Claro que os vizinhos dizem que ele tem um
dedo nisso.
- Levo camisa da torcida a todos, trago eles aqui para a sede
na festa das crianças. Cuido da nova geração de tricolores. Se você não expõe a
marca, a mídia não conquista as pessoas. Lá perto de casa tem um campo que é
tricolor e tem uma Escolinha dos Guerreirinhos. Teve um jogo que eu resolvi
apoiar os meninos e coloquei faixa da Young, bandeiras, bateria e fizemos a
festa. Os moleques adoraram. Quero semear esse amor pela torcida, diz.
E eu pergunto o que ele quer ver antes de partir para o andar
de cima.
- Quero ver o Fluminense campeão do mundo e estarei neste
jogo seja aonde for. Vendo carro, moto, o que for e vou, afirma.
Que os Deuses do Futebol te ouçam Manoel!
Legendas e créditos das fotos:
Foto 1 - O presidente junto aos componentes da torcida.
Crédito: Arquivo Young Flu.
Foto 2 - Manoel de Oliveira recebe uma camisa especial de
Armando Alcoforado, fundador da torcida.
Crédito: Arquivo Young Flu.
Foto 3 – O presidente durante a entrevista na sede concedida
na sede da torcida. Crédito: Carla Cristina.
Foto 4 - Manoel recebe na sede nosso ex-jogador Vinícius.
Crédito: Arquivo Young Flu.
Muito bom o seu blog e sua narrativa! Viva o Fluzão!!
ResponderExcluirGrata pela leitura e carinho Cleber. A casa é sua! Vamos marcar a nossa entrevista.. Beijos
ResponderExcluirExcelente a entrevista parabens
ResponderExcluirOlá Marcelo. Muito grata pela leitura. Continue a acompanhar nosso cantinho Tricolor. Saudações!!!!
ExcluirMuito boa entrevista, o outro lado dos fatos.Peter e flusócio, podem esperar.
ResponderExcluirAqui é lugar para a minha família tricolor.. Nós somos a maior relíquia do clube, meu nobre. Saudações Tricolores!
ExcluirMuito legal! Pena ter tão pouco espaço na mídia para mostrar o outro lado da moeda. Parabéns, ficou muito bom!
ResponderExcluirOlá Marcelo! Agora temos um cantinho tricolor. Grata pela leitura e pelo carinho. Saudações Tricolores!
ExcluirParabéns lindo texto, que grande figura é Manoel verdadeiro Tricolor é verdade por causa dele na década de 90 vários jovem fortaleceu à Young inclusive eu, minha carteirinha é de 90, Manoel verdadeiro Tricolor e apaixonado pela nossa Young Flu... belíssimo texto, parabéns Carla...!!!
ResponderExcluirParabéns lindo texto, que grande figura é Manoel verdadeiro Tricolor é verdade por causa dele na década de 90 vários jovem fortaleceu à Young inclusive eu, minha carteirinha é de 90, Manoel verdadeiro Tricolor e apaixonado pela nossa Young Flu... belíssimo texto, parabéns Carla...!!!
ResponderExcluir