sexta-feira, 15 de julho de 2016

Carlos Dias um homem de valor

Creio que minha amizade com Carlos Dias estava escrita nas estrelas tamanha a afinidade que sempre tivemos um pelo outro. Tudo começou no Facebook e o que nos uniu foi o amor pelo tricolor. No entanto não foi apenas isso. Criamos um laço forte e de muito carinho e amizade. Uma sintonia fina.

Até que numa bela tarde de domingo, dia de jogo do nosso time do coração, nos esbarramos por acaso no Maracanã. E nos reconhecemos de imediato e ali trocamos vários abraços e a felicidade ficou estampada em nossos rostos.

E Carlos Dias, apelidado carinhosamente por mim de “miguxo Love” tem uma bela história para compartilhar. Seu padrasto era Tricolor e como sempre o via assistir aos jogos com alegria contagiante ele, um menino de 13 anos, passou a prestar atenção no clube. Nessa época ele já jogava umas peladinhas na escolinha do Miguel Couto.

- As cores da camisa me chamaram atenção e eu me encantei e dizia para o meu padrasto que ainda jogaria no Fluminense. Me apaixonei aos pouquinhos e hoje se alguém fala mal eu fico nervoso. Só quem pode criticar sou eu. É meu time do coração, conta.

É claro que seu padrasto ficou bastante orgulhoso da sua escolha e o apoiava integralmente nos seus treinos. E por falar nesse sonho de jogar no Fluminense, no ano de 1979 ele fez testes no Olaria, no América e no Serrano de Petrópolis e passou em todos. Só que sua meta era o Fluminense. E eis que chega o dia do seu teste no clube, onde ele pleiteava a posição de goleiro.

- Chegando lá, Félix meu ídolo e campeão da Copa do Mundo de 1970, disse que eu não tinha altura para jogar. Fiquei revoltado, ele era menor do que eu. Como ele foi campeão sendo menor e eu não tinha tamanho para ser goleiro do Fluminense?. Fiquei arrasado. Voltei para casa e nunca mais fiz teste em clube profissional nenhum. Preferi continuar com as minhas peladinhas, relembra.

Como seu sonho era ser arqueiro ele cita Paulo Victor como seu grande ídolo.

-Ele agarrava muito e é um ser humano sensacional. Inspirava-me muito nele. E já que o assunto é ídolo não tenho como não mencionar o nosso eterno Casal 20. Eles eram maravilhosos dentro de campo.


Carlos e seu grande ídolo o goleiro Paulo Victor

Sua primeira camisa foi dada por um tio vascaíno que queria que Carlos torcesse pelo time da colina, só que não tinha mais jeito. Seu coração já estava tomado de amor pelo Fluminense.

E ele conta com muita emoção sobre a sua primeira ida ao Maracanã. Foi naquele Fla x Flu, de 1995, onde Renato gaúcho fez a torcida enlouquecer com o seu icônico gol de barriga.

- Foi uma loucura, uma mistura de sentimentos. Não sabia se ria, chorava, gritava, pulava, não sabia o que fazer. E quando o jogo terminou estava num estado de êxtase tamanho que permaneci dentro do estádio parado. Meus amigos me chamavam para ir embora e eu só consegui sai do Maracanã quando todas as luzes se apagaram, relembra.

Outro momento marcante foi assistir a final da Copa Libertadores, em 2008, onde o Fluminense disputaria o título com a LDU. Isso depois de uma campanha magnífica onde venceu o Boca Juniors e o São Paulo em jogos perfeitos.  

- Nunca esquecerei. Eu estava no trabalho e sai correndo para assistir o segundo tempo. Renato Gaúcho mandou o time tirar o pé e deu no que deu. Chorei feito uma criança. Não conseguia acreditar que depois de tanta luta aquilo estava acontecendo, desabafa.

Aquele jogo da Copa do Brasil, em 2007, também foi memorável. Nesta ocasião, ele trabalhava no Clube e conta que aconteceram coisas surreais neste dia.

- Estava de plantão e os jogadores queriam sair das Laranjeiras e a torcida não deixava. Tirei Fernando Henrique e o Ricardo Berna pelo parquinho do clube. Foi uma coisa de louco e que sempre levarei na memória.

Meu amigo trabalhou treze anos em seu cube do coração e segundo ele “foram os melhores anos de sua vida”.

Nesse momento percebo que sua voz fica embargada de emoção, embora ele tente seguir com a entrevista.

- Cheguei lá como fiscal de acesso, fui promovido várias vezes. Dei a minha vida, meu coração, me dediquei integralmente ao clube que movia com a minha paixão. Era sensacional conviver com a torcida, jogadores, trabalhar nos dias de jogos. Aproveitei muito, foi o melhor lugar que trabalhei, conta.

Carlos Dias com sua família nas Laranjeiras
Com a chegada de Peter que terceirizou todos os serviços do clube, meu amigo foi demitido. Mais uma vez sinto sua comoção.

- Hoje fico triste por não estar mais lá. Muita tristeza. Se você nunca viu um homem chorar, deveria ter me visto no dia em que assinei meu desligamento com o clube. Isso acabou comigo, declara visivelmente emocionado.

Neste momento pergunto se ele quer dar um tempo para se recuperar. Ele continua com a voz triste e sinto o choro preso na garganta. Definitivamente um guerreiro de extremo valor.

- Daí fiz a maior loucura pelo Clube. Chamei o Peter de safado e disse que ele não tinha amor ao Fluminense e não era tricolor. Ele não sabia nem o caminho da sua sala, desabafa.  

Alguns minutos depois, ele diz que está pronto para continuar e engato o papo falando do lado bom da vida.

- Os últimos títulos me alegram, as amizades que fiz dentro do clube e o carinho que recebo das pessoas até hoje são motivos de alegria. Eu era muito respeitado lá dentro e isso movia meu coração, me fazia bem, diz.

Seu filhote na sala dos títulos

E para meu miguxo ser Tricolor é tudo. "Primeiro a minha família, depois meu tricolor. É um amor incondicional". 

E uma das coisas que mais o impressiona é a torcida nos estádios

- Quando tem jogos do Fluminense e a torcida começa a gritar eu fico igual criança de boca aberta e olhando tamanha alegria. Nem consigo torcer direito. Aquela paixão que sinto no meio da torcida é coisa de louco. E eu tiro o chapéu para o que elas fizeram naqueles jogos da Libertadores. Nunca vi algo tão maravilhoso. Isso é inesquecível, afirma.

Sobre o amor de pai para filhos e netos, ele diz que nunca obrigou nenhum deles a torcer pelo tricolor. Tudo aconteceu naturalmente.

- Levava meu filho para o clube na época em que trabalhava lá e ele foi se apaixonando. Tempo atrás o clube vendia umas fraldinhas com o escudo estampado e eu sempre comprava pra ele. E cresceu assim, assistindo aos jogos, torcendo comigo, comenta.

E quando pergunto qual o seu maior sonho para seu Fluminense ele responde sem titubear: “ter um estádio para chamar de nosso e conquistar uma Libertadores”.

Carlos deseja que o nosso escudo seja conhecido mundialmente para que todos saibam que aqui no Rio de Janeiro existe um time que carrega consigo as cores mais bonitas que poderiam existir: o verde, branco e o grená.


Carlos e seus dois amores, o filho e o neto
Miguxo foi uma honra a nossa entrevista. Essa é minha singela homenagem a um tricolor tão apaixonado e que eu amo tanto.


Créditos das fotos: Arquivo Pessoal

3 comentários:

  1. Parabéns,belo texto lindo e emocionante 👏👏👏👏

    ResponderExcluir
  2. Parabéns,belo texto lindo e emocionante 👏👏👏👏

    ResponderExcluir
  3. O Miguxo vai vendo, ainda irei ver você de volta às Laranjeiras!!!!!

    ResponderExcluir