Acordei bem cedo e
antes mesmo de escovar os dentes e tomar meu café, coloquei uma de minhas
blusas de sorte do Fluminense. Devidamente trajada deu vontade de escrever
sobre esse clássico que é tão mágico, especial e, com todo o respeito aos
outros times, a partida mais maravilhosa do mundo. Não tem Cruzeiro x Atlético
Mineiro; não tem Grenal; não tem Corinthians e Santos. O clássico mais belo do
mundo é o nosso e hoje é dia de todo tricolor fazer uma corente positiva e de
amor para apoiar nosso time que enfrenta o rival, às 21h, no Raulino de
Oliveira.
Falei com tricolores
apaixonados e alguns de nossos ex-jogadores para ouvir deles um pouco deste
mistério que envolve o grande clássico.
O primeiro deles foi o
melhor arqueiro que vi defender nossa camisa, Paulo Victor que destaca a
partida disputada em 1984.
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Nosso arqueiro com a taça nas mãos |
“Tive uma participação maior
com aquele gol do Assis aos 45 do segundo tempo e eu pude aparecer muito nesta
partida. Um Fla x Flu marca muito e jogar este clássico é inesquecível. Só quem
já jogou o clássico sabe como é”, diz ele.
Nosso capitão Duílio
afirma que o de 1983 ficará para sempre na memória.
''Foi o jogo da final onde Assis marcou e
demos um pontapé para aquela equipe fantástica de 83, 84 e 85. Acho que se não tivéssemos
sido campeões não teríamos sido lembrados até hoje por um grupo de jogadores
que eram guerreiros. Foi um jogo difícil, que decidia um título e haviam muitas
coisas envolvidas. Penso que aquele gol
aos 45 minutos do segundo tempo veio coroar o trabalho numa Taça Guanabara
invicta de um grupo que quase ninguém acreditava e que tinha sido eliminado no Brasileiro
precocemente, onde faltavam muitas coisas. Só que esse grupo deu a volta por
cima. E não éramos os favoritos e sim o Bangu e o Flamengo. Empatamos com o
Bangu e o segundo jogo que era para ser Bangu e Flamengo foi um Fla x Flu. Em
campo, Fluminense foi grande como sempre. Foi um jogo tático, estudado,
complicado e no final a brecha que nos foi dada, a minha bola para o Deley e
dele para o Assis. Veio o gol no final e não teve mais tempo. Todo Fla x Flu é grande
e sempre digo que quem jogou em ambos os clubes e nunca participou deste
clássico não sabe o que é jogar nessas duas equipes”, afirma.
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Nosso Capitão e a alegria de erguer a Taça
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Para nosso querido Duílio,
o Fla x Flu e algo que emociona em qualquer lugar do planeta e ele aproveita
para agradecer ao carinho que recebe da torcida até hoje e diz que quem é
tricolor de verdade tem ótimas recordações deste título.
“Como capitão pude erguer
a Taça nas tribunas do Maracanã, tive esse prazer e essa honra que só o
Fluminense pôde me proporcionar”, comenta.
Agora vamos aos torcedores
ilustres de nosso tricolor como o Valter Veloso, um dos fundadores da torcida Força
Flu. Esse pode bater no peito com orgulho e dizer que desde o ano de 1963
assistiu a todas as finais que envolviam o Fla x Flu. Ele tem alguns favoritos
como o de 1969 e faz questão de ressaltar que esse era o seu time predileto. Os
de 83 e 84 com os gols de Assis também são eternos, assim como o gol de barriga
de Renato Gaúcho.
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Momento mágico onde Renato Gaúcho foi Rei |
“É o maior clássico do
mundo e mexe com todos. Uma decisão conta o Flamengo é a coisa mais bonita do
mundo, é tudo na vida. Ver o Maracanã lotado e aquele colorido das
arquibancadas saltar aos olhos é inexplicável”, afirma.
E assim pensa seu
companheiro de torcida, Matozo Portaluppi, que por tanto amor e gratidão ao Renato
Gaúcho passou a usar o sobrenome de seu craque do coração.
“O Portaluppi é uma forma
de reverenciar o meu ídolo e enquanto for vivo Renato será imortal” afirma.
É óbvio que seu clássico
inesquecível foi aquele do gol de barriga.
“Tenho uma tatuagem no
corpo 1902, que se refere ao nascimento do Fluminense. A próxima que já está
marcada será 1995 em referência ao ano mais importante para mim como torcedor
do Fluminense. Aquele 25 de junho de 1995 foi o dia mais feliz da minha vida,
junto com o nascimento dos meus filhos claro. Foi o maior jogo da história do
Maracanã. Eles jogavam pelo empate. E no meio dia já partimos para o estádio. Assisti
o jogo na geral”, conta ele.
Para Matozo, o maior
jogador da história do Fluminense é o Renato Gaúcho e ele adora as declarações
do craque nos finais de jogos
“Tem uma que ficou marcada
na memória e na minha vida: “Somos operários sim. Não temos vergonha de falar.
Eles ganham mais do que a gente. Só que amamos nossa camisa e fomos campeões”,
recorda.
Para outro grande
tricolor, Maurício Lima é difícil falar qual foi o melhor Fla x Flu. No entanto
ele cita o de 1995. De novo o gol de barriga do Renato Gaúcho levou esse
tricolor ao êxtase.
“Nesta época fazia uma
dieta muito forte e no dia do jogo estava em jejum, nem pensei em comer. Tensão
total. E na época estava na Young Flu batucando e vendo o pessoal indo embora,
pois o Flamengo empatou o jogo. Até que peguei o surdo e comecei a gritar sobre
o Assis:
“Gente vamos cantar, Assis fez um gol aos 45.
Vamos acreditar”.
Faltando três minutos para
terminar, Ailton invade a área chuta e eu nem vi a bola bater na barriga do
Renato. “Só a vi a rede balançar.
E com eu estava em jejum cai no chão e desmaiei, fiquei dois minutos em outra
órbita. Quando abri os olhos, uns segundos depois o juiz apitou o final do
jogo. Foi sensacional esse momento. Esse título foi muito importante para mim.
Um ano antes o Alcides Antunes tentou contratar o Renato Gaúcho, que foi para o
Atlético Mineiro. No entanto, ele não estava feliz lá e eu participei dessa
negociação para ele vir para o nosso Fluminense e eu fui recebê-lo com bandeira
e tudo. Tenho orgulho disso. Foi um ano sensacional” diz orgulhoso.
Wagner Aieta, do grupo
Vence o Fluminense, tem um Fla x Flu que memorável, pois faz parte do começo da
sua ida aos estádios. A final do Campeonato Carioca de 1983.
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Assis comemora o gol com seu companheiro Washington
“Como de costume, a
maioria tinha mania de sair antes do jogo para evitar confusão. E quando Assis
fez o gol da vitória eu estava na rampa de descida. Não vi o gol, só ouvi o
pessoal vibrando. Depois vi pela televisão o lançamento primoroso de Deley para
Assis que invadiu a área e chutou. A bola passou por debaixo do pé de Raul. Subi
correndo a rampa e nunca mais sai do estádio antes do apito final. E quanto à mística,
ganhar do Flamengo é a melhor coisa que tem, a gente passa do limite. E não
posso deixar de comentar o dia da barrigada. Não tem um flamenguista que não se
lembre disso. Calou a torcida deles que já gritava é Campeão. Acho que até hoje
quando eles olham as fotos, devem tremer, chorar, sair do comum, diz num tom
brincalhão.
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Meu amigo jornalista e
ex-colega de redação Affonso Nunes diz que o clássico tem um componente grande
de rivalidade que é bem trabalhado no imaginário popular. Tanto que é
reconhecido como um dos grandes clássicos do futebol mundial.
“E o mais famoso do
futebol brasileiro. Não existe outro que supere essa mística. É um jogo de
contrastes. É tão importante que até o Eurico Miranda tenta nós roubar isso,
essa rivalidade maior. O Vasco tenta fazer com que as pessoas acreditem que a
maior rivalidade do Flamengo é o Vasco e nunca foi, comenta.
Para ele um dos mais
especiais também foi o de 1995.
“Éramos Davi contra
Golias. O Flamengo tinha um time no papel espetacular mais que já havia tido
tropeços com o Fluminense no turno e no returno e quando chega o dia da decisão
tínhamos uma desvantagem, tivemos jogadores expulsos, conseguira reagir, foi um
jogo de grande emoção. Talvez os melhores roteiristas de filmes de suspense não
imaginassem a dramaticidade daquele desfecho, de alternância de possibilidades,
frisa ele.
Um detalhe divertido. Na
época em que trabalhamos no Jornal do Brasil na podíamos usar camisas de times.
Então nos dias de jogos do Fluminense, que assistíamos com a editoria de
esportes, íamos trabalhar com roupas das cores do clube. Era uma camisa branca
com outra verde por cima; uma polo grená com calça verde; valia a criatividade
e tudo pelo Fluminense.
Eu também amo o clássico
de 1995. No entanto como não posso deixar de falar do meu amado Ézio, um carrasco do Flamengo, destaco
aqui a partida disputada em 1994 onde o Fluminense venceu por 3 x 0. E olha que
estávamos cinco jogos sem vencer o rival. E no dia 16 de novembro de 1994, no
Maracanã, Luiz Henrique abre o placar aos 34 do primeiro tempo. Até que Ézio e
dia inspirado marca o dele sete minutos antes do final da partida. A torcida
com a respiração presa e com a fé de João de Deus não parava de cantar até que
um pênalti foi marcado e nosso Super Ézio deixou sua marca.
Só quem é tricolor sabe o
prazer de torcer e envergar a camisa mais bela do mundo. Desejo que hoje,
nossos guerreiros entrem e campo com determinação, foco e futebol para que essa
torcida maravilhosa possa se esbaldar de alegria em Volta Redonda.
Fluminense Eterno Amor!
Saudações Tricolores