segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Para o Tato com Amor

Escolhi “Clair de Lune”, de Debussy, para escrever um texto que já deveria ter saído, mas nem sempre as coisas são como devem ser. Acho que foi por covardia minha de entrar num assunto tão delicado que envolve a perda de alguém que eu amei por demais. Amei, não. Eu Amo!

E essa belíssima obra, uma das composições clássicas mais belas e executadas em todo mundo tocada ao piano pelo genial artista era a mesma que ouvi no sonho que tive noite passada. Um daqueles bem reais em que você acorda sentindo o cheiro do outro e uma carícia suave nos cabelos.

Nosso cantinho no Bar dos Guerreiros

E foi assim que Tato me veio. Estávamos no Maracanã vazio e iluminado com as cores verde, branco e grená. Deu-me a impressão de que o Fluminense havia jogado e esperávamos o povo ir embora para sairmos juntos do estádio.

E naquela arquibancada ele segurava a minha mão e sorria. Tudo em silêncio. Palavras as vezes sobram. Até que em certo momento deitei minha cabeça em seu colo, o que me remeteu aos meus quinze anos, e ele fez carinho até eu acordar com aquela lembrança branda, sublime e afável. E levantei-me da cama com meu grande amigo em minha mente e, aos poucos, recordei-me de momentos especiais que vivemos dentro e fora do Maracanã.

Ele bebendo sua cervejinha
Nossa última festa, por exemplo, foi a de final do ano da Fiel Tricolor.  Ele foi me buscar na porta de casa. Na época morava na Nossa Senhora de Copacabana, bem em frente à Galeria Alaska e pude vê-lo chegar da minha janela. Acenei e desci para encontrá-lo. Um probleminha de última hora fez a Fiel mudar o local do evento e advinha o que fizemos? Sentamos num barzinho bem pé sujo, ali na Djalma Ulrich, para marcar hora enquanto bebíamos umas cervejas.

E conversar com o Tato era sempre celestial. Eu prestava atenção em cada palavra e nas histórias que ele viveu dentro da Young Flu e na Força Flu. Ficava encantada por ele compartilhar comigo aquelas memórias. Eu me sentia uma bruxinha diante do Mago Merlin.

E se hoje eu amo tanto a Young Flu a culpa é dele. Meu pai achava Torcida Organizada coisa de marginal para um homem, imagina para a menina dos seus olhos.  Como sou teimosa e obstinada, achei uma forma de contornar a situação. Cheguei ao Maracanã e fui direto ao Tato explicar o que acontecia e, na cara de pau, pedi que ele fosse ter uma conversa com meu pai. Isso mesmo. E ele foi e ele cuidou de mim em cada jogo, em cada caravana, em todos os momentos. Inesquecíveis circunstâncias que contribuíram para fortalecer mais ainda nossos laços.

Fluminense seu grande Amor
E eu tenho que agradecer a Deus por ter me ofertado um ano ao lado dele, o seu último ano, onde nos encontrávamos no Bar dos Guerreiros e ele sempre guardava um lugarzinho pra mim. Até minha bolsinha roxa ele segurava quando eu ia ao banheiro.

Ele tinha um coração enorme, um abraço apertado, palavras gentis, um sorriso farto. Só não podia pedir cigarro a ele, pois ficava fulo. Desculpem os mortais, nunca tive problemas com isso.

Tato era divertido e tinha aquela mania de assistir aos jogos sempre em pé, atrás do buraco que a torcida subia para as arquibancadas. Ele só ficava ali. Cerveja numa mão, um cigarro na outra e as mãos cruzadas.


Carlinhos, Anderson e Tato
Até que um dia recebo a notícia de que ele virou estrelinha. Não estava preparada. A primeira coisa que fiz foi olhar pela janela para ver se ele ainda estava a me esperar do outro lado da rua. Uma tentativa de me enganar. Chorei copiosamente. Minhas lágrimas caiam sem que eu tivesse força para contê-las. Eu me senti destruída, desamparada, sozinha, sem rumo.

Pensava: “O que vou fazer agora, sem ele?”

Imediatamente um sopro, era como se ele falasse comigo ao pé do ouvido: “Carlinha você vai continuar e eu estarei sempre perto”.

E tenho a honra de dizer que cantei o hino do nosso Fluminense enquanto seu corpo descia para encontrar a Mãe Terra.

Vilminha e Tato
Gratidão por uma amiga querida que tivemos em comum, a Vilma Gramazio, que me deu o abraço mais apertado e cheio de amor assim que entrei no Cemitério do Caju. Foi ela também que limpou minhas lágrimas e pegou minha mão para levar-me até ele. 

Meu amor a Bel Santos, ao Henrique Pinto. Meu amor ao Carlinhos, presidente da Fiel Tricolor, que me levou embora dali. Acho que ele percebeu que estava prestes a cair. 

A todos vocês a minha Gratidão.

A sua alma já estava muito longe dali e sei que ele ronda pelo Maracanã e pelas Laranjeiras e está dentro de cada um dos que tiveram o privilégio de ter por perto um homem tão especial.


Que saudades que sinto de você, meu amigo. Tudo o que me ensinou jamais será esquecido, assim como o seu legado que farei questão de manter cheio de luz.

Eu Te Amo do tamanho do céu!





domingo, 28 de agosto de 2016

Feliz Aniversário Romerito

O jogo valia o título de Campeão Brasileiro de 1984 e era contra um enjoado time da colina. Partida retrancada até que Assis pegou a bola e deu uma de ponteiro esquerdo ao fazer o lançamento para seu parceiro Washington eu não chegou a tempo. Quem estava lá na melhor posição e colocou a bola dentro do gol com um toque sutil de Romerito.
Um momento do Romerito na partida

E aos 23 minutos do primeiro tempo, a torcida tricolor explodiu numa festa verde, branca e grená. Um gol que traduziu a força de vontade de um time guerreiro. Cabe ressaltar que neste Brasileiro tivemos a defesa menos vazada a melhor pontuação do campeonato.

Tricolor em toda terra lembra e tem enorme carinho por Julio César Romero, apelidado carinhosamente de Romerito. Sem dúvida um dos grandes jogadores da história do Fluminense com sua técnica particular e o instinto de guerreiro. Ele vestia nossa armadura com um amor e orgulho indiscutíveis.

Nosso ídolo comemorando o gol
 “Para o primeiro jogo contra o Vasco tivemos uma preparação muito forte. Treinamos muito com o Parreira, foi uma semana muito nervosa e tínhamos que fazer um gol. Nós estávamos mentalizando que esse primeiro jogo seria muito importante pra nós. O Maracanã tinha muita gente, estava lotado e foi uma alegria muito grande chegar e ver a torcida do Fluminense nos apoiar daquele jeito, porque a imprensa dava como campeão, o Vasco, que era o time mais artilheiro do campeonato. Mas nós estávamos focados e sabíamos que íamos ganhar o jogo”, disse Romerito.

E o que dizer para os 63.156 torcedores presentes no Maracanã?

“Até hoje não consigo falar para as pessoas o que senti naquele momento, especialmente quando acabou o jogo e nós ganhamos. A preparação tática do Parreira, a predisposição dos jogadores e a concentração dentro de campo fizeram que essa torcida maravilhosa gritasse e se sentisse vencedora daquele jogo. E foi como o Parreira falava, nós precisávamos de um gol e ganhando de 1 a 0 nós seríamos campeões. E fomos” comenta.


A comemoração da Torcida Tricolor 


Romerito e seu amor pela camisa mais bonita do mundo

Em 1985, fez o primeiro gol da final do Campeonato Carioca, no jogo contra o Bangu, em que o Fluminense sagrou-se tricampeão estadual com a vitória por 2 a 1. Neste mesmo ano, foi eleito pelo jornal uruguaio El País, o melhor jogador da América do Sul, em tradicional enquete feita anualmente com jornalistas esportivos de toda a América do Sul.

E o Amor Tricolor parabeniza esse ídolo amado e eterno que nos deu muitas alegrias. E aproveito aqui para agradecer meu querido Tricolor Maurício Lima que me proporcionou uma das maiores alegrias no dia do jogo entre Santa Cruz x Fluminense, no Arruda.

Ele sabia do me carinho por Dom Romero e de repente surge uma mensagem do Maurício no meu WhatsApp. E de quem era? Do Romerito e eu fiquei feito criança que ganha um presente lindo, embrulhado numa caixa tricolor e fita branca. Tem coisas que só entende quem ama o Fluminense acima de qualquer coisa.

Feliz Aniversário Romerito. 

Nossa torcida ama você!!!

Saudações Tricolores!!!!


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um Tricolor para lá de Fofo




O apelido ganhou da madrinha, que o achava o menino mais carinhoso e afetuoso do mundo e quando Wellington da Silva entrou para a Young Flu, os componentes decidiram aproveitar o Fofo, que veio de berço.

Seu amor pelo Fluminense começou através da amizade com o Alex, o Pinto, integrante da Young Flu, da Piedade.
Fofo costumava ver os jogos pela televisão e quando ia aos estádios era na companhia do primo, e como era muito menino não tinha ainda noção de futebol. Foi o amigo Alex que o introduziu no meio e prometeu que o levaria para assistir a um jogão.

E essa partida foi nada menos do que um Fla x Flu, com vitória do nosso tricolor por 3 x 2.

“Quando eu vi aquela festa da torcida eu me encontrei. Me apaixonei pelo clube e pela Young Flu e o Alex me levou lá na antiga salinha na rua Dias da Cruz e comecei na Torcida Organizada”, conta ele.

Foi apresentado a todos e a partir daí se engajou nessa trajetória de torcida organizada, de onde nunca mais saiu.

Fofo na Sede da Young Flu

“Através da Young Flu conheci o mundo. Fiz muitas amizades pelo Brasil. Tenho contatos em Belém do Pará, com o pessoal do Remo. Fui conhecer e fiquei quase dois meses por lá, tamanha a identificação. Agradeço por todas as amizades que fiz. Isso aqui é uma família”, conta ele.

As Caravanas Maravilhosas

Sua primeira foi para Coritiba, saíram dez ônibus do Rio, infelizmente o Fluminense não ganhou a final, mas isso não o fez perder aquela vontade de estar sempre junto dos seus.

Encontro de Tricolores na sede da Young Flu

“Teve um Fluminense x Botafogo que aconteceu em Juiz de Fora e a nossa caravana estava na frente. No entanto, logo os camisas pretas começaram a aparecer de todos os lados na linha vermelha. Eles não viram que tinha mais tricolores e ficaram no meio. Teve um fight e vi muitos botafoguenses pulando naquele valão para fugir, pois ficaram no meio da gente. A linha vermelha ficou interditada por uma hora, foi uma confusão danada. Até que chegaram as viaturas da polícia para apartar a confusão”, recorda.


Fofo, Magal e Fael 

Outra ocasião foi num jogo contra o Palmeiras. Chovia muito e a partida seria as seis da tarde. “Na saída do estádio, encontramos com o pessoal da Mancha Verde e com a polícia paulista, que acha que carioca é bicho. Não acabou bem o encontro”, conta ele.

Pergunto se em algumas dessas situações ele já sentiu medo?

“Claro que sim. Teve um jogo contra o Palmeiras também e o nosso ônibus quebrou na serra e sabíamos que a torcida do Botafogo estava para passar pelo mesmo caminho. Tivemos que sair do veículo e nos esconder na mata para evitar uma confusão maior. Estávamos em menor número, em ônibus só, o resto dos nossos já tinha ido. Foi a atitude mais sensata”, comenta.

E vale a pena passar por esses perigos?

“Vale, quando você ama você faz. Já viajei sem um real para Limeira, fomos de Kombi no maior sufoco e eu não me arrependo. Fizemos baldeação e passamos por Campinas e contamos com o apoio do pessoal do Guarani. E olha que não faltava nada”, diz ele

Rituais

Tenho uma camisa antiga da Young e mesmo quando não vou para o estádio ela fica comigo. Já me ofereceram grana por ela e eu nunca pensei em vender, ela é especial, da época do seu Armando Giesta. Ganhei de um amigo que nem me conhecia direito, mas sabia do meu amor pelo Fluminense. É meu símbolo”, revela.

Quando não vai aos estádios, Fofo prefere assistir as partidas sozinho e sem aqueles comentários de ninguém em seu ouvido. Ele odeia.

E foi assim que viu seus maiores ídolos em campo. Magno Alves, do Roger, Thiago Silva e queria ter visto jogar o casal 20. “Não tive esse prazer”.




E com o Romerito ele tem uma estória linda para contar.

“Fluminense foi campeão e 2012 e a nossa torcida foi a única que conseguiu entrar no granado. Comorando o título em pleno do Maracanã. Quando eu vi o Romerito não me contive, fui ate lá falar com ele e o coloquei nos ombros. Comemorei título com o meu ídolo nos ombros. Foi maravilhoso”, diz ele.

Qual foi a sua partida inesquecível?

“Meu título especial foi aquele em que Renato Gaúcho calou a torcida do Flamengo no último segundo. Mesmo não estando no Maracanã, eu vibrei e nunca mais esquecerei. Assisti num bar, com alguns flamenguistas, que são igual ratos e em qualquer lugar tem, e foi tarefa árdua aturar as zombarias até que o Renato iluminado fez o dele. O bar ficou quietinho, um silêncio total. Tiveram que me engolir”


O Gol de Barriga de Renato Gaúcho

E tem o outro lado da moeda. Se Renato lhe ofertou tamanha alegria, também o fez sofrer com a derrota na Copa Libertadores. “Foi terrível. Perdi o chão totalmente, me deu vontade de sumir e até pensei em largar o futebol, mas não consegui. Meu amor pelo Fluminense foi mais forte”, admite.

E o que é ser Tricolor?

“Sem palavras para definir esse sentimento enorme que habita o meu peito. São muitas coisas boas, amizades, amor, só tenho que agradecer por ser tricolor. Sou feliz e realizado toda vez que vejo nosso elenco entrar em campo vestido com a camisa mais bonita do mundo”, encerra.


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Curiosidades sobre a Força Flu

Ao entrevistar os fundadores da Força Flu, o Amor Tricolor descobriu uma série de fatos importantes da torcida e agora compartilha com os leitores.


O futebol da torcida
 
Primeira formação do time de futebol de areia
João Venâncio Cysne foi o responsável pela criação dos times da Força Flu na Praia de Copacabana e no Aterro do Flamengo, juvenil. Eles ficaram em terceiro lugar no campeonato promovido pelo Jornal dos Sports.

Eles competiam nas areias de Copacabana
“Para falar a verdade meu irmão mais velho, Antônio, era craque. Eu jogava por amor. Também eu era o dono do time. Brincadeiras a parte eu tinha muita raça. Jogava de ponta esquerda e as vezes centroavante. Meu apelido na praia era João Gil, por causa do Búfalo Gil que fez ataque com Rivelino, Paulo César e Doval. Gostava de fazer uns golzinhos”, conta Joao Venancio sorrindo.

A Força Flu recebendo o prêmio do Jornal dos Sports

Conquista do mundial de 1952

O querido Francisco Cysne ofereceu uma feijoada em sua casa para as comemorações da conquista do Mundial de 1952. Na mesa, os ilustres Didi (com uma camisa da Força Flu nas mãos), Telê Santana, Orlando Pingo de Ouro, Escurinho, Píndaro, Jorginho, Dr. Rizzo e Ximbica.




Baile do Cartola

O Flu tinha um carnaval excelente e no começo dos anos 70 todo o primeiro Baile do Cartola eu levava a minha turma de Copa para curtir a festa e todos com a camisa da Força Flu. Era lindo ver aquelas trinta pessoas perfiladas na escadaria da entrada do clube trajando a camisa sagrada.


Essa foto saiu na Revista Manchete e na Revista Mensal que o Clube produzia na época.


Os meninos de verde  



Foi assim que tudo começou. Eles eram jovens sonhadores e cheios de amor pelo Fluminense.


Componente que virou lenda


Dentre os integrantes da torcida Força Flu, estava o Careca do Talco. Ele tinha por hábito batizar cada tricolor com um banho de talco. Sempre com uma bandeira tricolor amarrada ao pescoço e estendida em suas costas. 


A primeira faixa da torcida Força Flu



segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A fidalguia de João Venancio Cysne

Joao e o pai comemorando seu aniversário
Seu coração bateu em compasso tricolor desde o dia em que foi gerado. “Aquele espermatozoide do papai era verde, branco e grená”, diz com um sorriso farto Joao Venancio Cysne, um dos primeiros componentes da fabulosa torcida Força Flu. Isso em meados dos anos 70.

Ele tem muita história para contar. O grande exemplo recebeu de seu pai, o velho Chico, um exemplo de torcedor apaixonado por seu time. Ele era um daqueles tricolores bem fanáticos que só esperou o filho caçula sair das fraldas para iniciá-lo no mundo do futebol.

“Para ter uma ideia ele me levava a todos os jogos do Fluminense no colo ao lado do meu irmão mais velho Antônio. E meu pai ia ver o infantil, o juvenil, o profissional. Era o Fluminense em campo e lá estava ele. E não só nas Laranjeiras, ele gostava de percorrer os estádios cariocas. Com isso me apaixonei pelo clube”, conta.

E quem lhe presenteou com a primeira camisa tricolor foi sua mãe. Ganhou ele e o irmão Antônio. “Temos uma foto desse dia, na Praça do Lido. Ela era em preto e branco e eu não sosseguei até conseguir um profissional que trabalhasse para colorir o material. Queria ver nossas três cores no papel”, diz.


Joao e Antônio com a camisa tricolor na Praça do Lido

Aos sete anos assistiu ao seu primeiro Fla x Flu, a final de 1963, o maior recorde de público na época. Infelizmente a mulambada foi campeã com um empate e até hoje esse jogo está marcado na memória, assim como aquele gol que o Escurinho perdeu no final da partida. No entanto, em 1964 o Fluminense sagrou-se campeão e ele estava lá com seus oito anos vivenciando tal emoção.

E o clássico dos clássicos sempre foi marcante em sua vida. “Em 1969, tivemos uma partida inesquecível, com gol do Flávio no final do Jogo, vencemos por 3 x 2. Teve aquele com Manfrini e Dionísio, em 1973; o gol de barriga do Renato Gaúcho”, recorda.

A primeira vez em que viu o seu time de coração conquistar um título foi naquele jogo contra o Bangu, no Maracanã, onde o Flu venceu por 3 x 1. Ele foi com seu pai nas cadeiras.

“Quase não fui ao jogo, pois minhas notas estavam baixas e minha mãe pensava no castigo. Só que papai me levou e eu lembro que no final do jogo, corria de um lado para o outro, olhando a torcida e já pensava que um dia faria parte dela. Na época tinha a Organizada e a Dissidente Flu, do Bolinha, que ficava com um sino nas mãos, e eu adorei o nome”, diz ele.

Jardel, Wilton, Samarone, seu pai e ele 

Esse negócio de torcida sempre mexeu muito com ele. Inclusive com apenas 12 anos já queria montar a CopaFlu, pois morava em Copacabana, entre a Prado Junior e a Praça do Lido, e tinha vários amigos tricolores no bairro. Foi neste momento em que veio o convite da Força Flu.



Entrada na Força Flu

Foi num jogo no Maracanã, ao lado do GB, Valtinho, Laranjeiras e Mário Márcio quando o GB e o Eduardo o convidaram a fazer parte. Eles lhe disseram:

“Você ainda é muito moleque para fundar uma torcida. Vem com a gente que vai tomar conta das bandeiras”.
Caravana para o Beira Rio e a primeira bandeira da torcida
E Joao Venancio ficou radiante. Tudo o que ele mais queria era participar ativamente de uma torcida do Fluminense. “Quando eu ficava na arquibancada adorava ver o Bolinha e seu estio despojado de se arrumar. Costumava usar sandálias, fumar seu charuto e balançar aquele sino dele. Observava muito o Paulista, da Organizada, que era muito tradicional e usava camisa tricolor, calça branca, sapato branco. O Sérgio Aiub era mais discreto.  Achava bacana aquele ritual todo. Foi quando conheci o Valtinho”, comenta.

A primeira reunião da Força Flu aconteceu na casa do GB ncom as presenças de Joao, Zenildo, GB, Eduardo, Valtinho, Gigi, Bibi, o Boto, Laranjeiras e o Romano. 

Primeira camisa da Força Flu enquadrada
“Era paixão pura. Quem escolheu as cores da primeira camisa da torcida fui eu e o Valtinho. A cor verde dava outro estilo. Lembro como se fosse hoje, fizemos essa camisa na loja King Sport, no edifício Central, na Avenida Rio Branco”.

E nesse ambiente ele cresceu, assim com sua torcida que fazia tudo por amor ao clube. Depois dos jogos, passava a bandeira do Fluminense pela arquibancada e recolhia dinheiro para comprar talco, bandeiras e adereços para o próximo jogo. A torcida em geral sempre ajudou a organizada.

Ele afirma que a Força Flu tem que agradecer muito ao Sérgio Aiub que sempre os apoiou desde a criação da torcida, emprestando até instrumentos. “Ele sempre foi um homem inteligente, agregador e sem egoísmos. Percebeu que a torcida tinha que ser jovem e pegou o nome da Jovem Flu, que vinha do Nelson Motta, Hugo Carvana, Elis Regina, e batizou a sua Torcida Organizada Jovem Flu. Só tenho que dizer muito obrigado por tudo Mestre.”


Momentos marcantes

E os dias de jogos eram dias de festa. Morador de Copacabana colocava todos os seus amigos todos uniformizados no ponto para pegar o Méier – Copacabana rumo ao Maracanã. “Nisso já vinha uma galera que morava na Sá Ferreira, Posto 6, Geraldo e seu irmão Zequinha, Gilson e outros mais fazíamos uma festa antes do jogo com direito a pó de arroz e tudo dentro do transporte”, conta.

Festa de 30 anos da torcida: Denise, João Carlos, Silvia, Eduardo, Laranjeiras, Valmir, Valtinho, GB, Julio e ele 

E ele pode se gabar de uma coisa. De 1964 até hoje, o único título que não viu foi o conquistado em 2012, naquele jogo contra o Palmeiras. Joao Venancio pode dizer que esteve em todas as finais de seu tricolor.

Agora, o título inesquecível foi em 1971 com um gol do Lula aos 43 minutos. “Ubirajara empurra o Marco Antônio e o Lula faz o gol. A torcida do Botafogo já gritava “tá chegando a hora”. Desmaiei no estádio. Acordei num bar com o pessoal jogando água em meu rosto. Foi uma conquista suada. Estávamos sete pontos atrás do Botafogo e chegamos lá. Nesse dia achei que meu coração ia parar de bater”, diz ele emocionado.

O primeiro ídolo foi Castilho, até porque seu pai era apaixonado pelo arqueiro e também era fã de Félix, um craque da Seleção. Inclusive chegou a brigar com um moleque que falou que o goleiro havia tomado um frango durante a Copa de 1970.

Depois Samarone, Flávio, Rivelino, Casal 20, Edinho e Renato Gaúcho.


Alegrias e tristezas

Todas as vitórias em cima da mulambada o deixam feliz. E Joao ficou radiante quando recebeu a sua benemerência no clube. “Tenho 52 anos de sócio do clube e isso quer dizer que contribui em algo para o crescimento do meu tricolor. Tudo é feliz no Fluminense”, afirma. Atualmente mora em Brasília e faz questão viajar para o Rio nos dias de jogos com  o intuito de acompanhar o time. “Minha vida é o Fluminense”, diz ele.

Sobre as tristezas, é impossível não notar a mudança no tom de sua voz quando cita a fatídica partida da final da Libertadores. 

“Na verdade, foi o dia mais triste e o mais feliz, pois nunca vi uma festa igual quando o Fluminense entrou em campo. Sinceramente foi de emocionar e só de recordar já me faz arrepiar. Eu estava alucinado e sei que Deus queria um bom momento para todos os tricolores ali presentes. Infelizmente não deu”, declara.

E outro dia muito triste foi quando venderam o Flávio, um jogador que Joao estimava por demais.  


Namoro x paixão pelo Flu

Ele assume ter sido um pouco namorador nesta fase. No entanto tinha uma regra só aceitava se a menina fosse tricolor, caso contrário não tinha negócio. “Namorava uma menina e ela era vascaína, seu pai era fanático, e um belo dia a levei ao cinema e a pedi em namoro, claro com a condição dela virar casaca e torcer pelo Fluminense. E a moça apaixonada atendeu ao seu pedido contrariando o próprio pai. Joao me conta que depois que o namoro terminou, ela continuou tricolor e ainda casou-se com um. 

“Só fiz bem a ela”, comenta em tom brincalhão.

E parece que ele tem jeito para a coisa. Sua segunda mulher, a Scheila, era vascaína e converteu-se em tricolor a ponto de viajar com ele para os jogos. “Se não for tricolor não tem casamento, não tem paixão, não tem nada”, comenta.

Jr, Joao e Mariana no Maracanã

E esse amor também descompassou o coração dos filhos, Mariana e JR. No aniversário de quinze anos deu para ambos o título de sócio proprietário de presente. Sem dúvida Joao é um pai orgulhoso e enche o peito ao afirmar que os filhos são fanáticos. Sem dúvida um amor que passa de geração para geração. 


A tatuagem

Em 2009 quando estávamos para cair, Joao descia a escada rolante da Tribuna d Maracanã. Fluminense tinha perdido para o Coritiba e ele liguou para o JR. “Meu filho acho que esse ano não vai ter jeito”, disse a ele. 

Cheguou em Brasília na segunda-feira e quando encontrou com o filhote foi apresentado a uma tatuagem que o rapaz fez embaixo do pescoço. “Papai, o Flu não vai cair. Promete que se conseguirmos fará uma tatuagem também”, me perguntou.


A tatuagem de Joao Venancio

"Aceitei a proposta. Só que não a cumpri. E veio 2013 e o Fluminense foi rebaixado. No sábado seguinte fiz a tatuagem no meu braço e na sequência houve aquele lance com a Portuguesa. Fluminense não caiu. Será que foi a tatuagem que paguei atrasada contribuiu?”, me pergunta ele.

Vai saber. Tem coisas que nem o Sobrenatural de Almeida consegue explicar.

E como diz a Força Flu: "Muitos nos viram nascer... Ninguém nos verá morrer!!!


Saudações Tricolores!